Nota Histórico-Artistica: |
Construído num inselberg, no extremo Norte da Cova da Beira, o Castelo de Belmonte é uma imponente construção em granito mandada edificar por D. Sancho I entre os finais do século XII e os inícios do século XIII, em pleno processo de consolidação da fronteira oriental do reino. As informações acerca da sua maior antiguidade (em particular a que relacionava uma primeira fase de povoamento com um oppidum romano), foram rejeitadas pelas recentes escavações arqueológicas, que não identificaram qualquer vestígio dessa época (MARQUES, 2001,pp. 485 e 494, nota 4).
O castelo românico implantou-se, muito provavelmente, sobre um primitivo povoado pré-românico, periférico e de escassa relevância política, mas que poderá ter sido dotado de muralha, como parece provar-se pelos vestígios de um alicerce e pela referência duocentista a um muro pré-existente (IDEM, pp.487-488).
Em 1199, no mesmo ano em que D. Sancho I transferiu a diocese da Egitânia para a Guarda, Belmonte foi dotado de foral régio, documento fundacional em que o monarca reconhece os direitos do bispo de Coimbra sobre a localidade. Em 1223, D. Sancho II confirmou este foral, devendo datar dessa época uma renovada atenção às obras de fortificação. António da Cunha Marques aponta para os meados do século XIII a definição do plano geral do castelo (IDEM, p.489), mas a verdade é que os resultados das escavações não são claros a respeito da cronologia exacta de algumas parcelas. Ou seja, permanece uma relativa dificuldade em identificar o que pertenceu ao castelo românico e o que, por ser já gótico, se deve atribuir à reforma dionisina, na viragem para o século XIV. O facto de a investigação ter encontrado uma extensa zona de aterro, que terá levado, mesmo, ao despovoamento parcial da área intra-muros (IDEM, p.489), é um indicador seguro da maior amplitude das obras góticas aqui realizadas. E o mesmo se poderá vir a concluir acerca do traçado oval do conjunto, mais característico da arquitectura militar gótica que da românica.
A torre de menagem é a principal estrutura dionisina do conjunto. Assente sobre uma sapata (ao contrário das muralhas) e realizada com grandes silhares bem aparelhados e siglados, ela adossa-se do lado Sul e protege a entrada principal no recinto. Ainda hoje, a sua imponência constitui uma das mais cenográficas panorâmicas da vila, com a sua planta quadrangular e um desenvolvimento vertical de três andares (marcados exteriormente por frestas e por duas portas na face voltada ao interior do castelo) e coroamento ameado.
Deslocada a fronteira mais para nascente, com o Tratado de Alcanices, Belmonte perdeu parte da sua importância estratégica. A nova ordem proporcionada pela dinastia de Avis, todavia, encarregou-se de dotar o castelo de renovada relevância. Seguindo uma prática comum à nobreza quatrocentista, parte do antigo recinto foi transformada em paço senhorial. Logo em 1397 ou 1398, D. João I nomeou como alcaide Luís Álvares Cabral. Foram diversas as obras então efectuadas. Do lado Sul, reconstruiu-se a actual entrada, em forma de cotovelo. Do lado oposto, reformou-se parte da muralha, adossando-se-lhe um torreão e deu-se nova forma à porta setentrional, nomeadamente através da inclusão de uma troneira (IDEM, p.491).
No reinado de D. Afonso V, criada a alcaidaria-mor de Belmonte e doado o título a Fernão Cabral, este nobre empreendeu a construção do seu paço. As obras deverão ter começado pela ala nascente, ao longo da muralha. Num segundo momento, edificou-se o corpo ocidental, mais regular e de duplo piso (IDEM, p.492). Desse período, data a janela manuelina mainelada, aberta no lado Sul, junto à torre de menagem, que se encontra encimada pelo brasão da família.
Alvo de um incêndio no final do século XVII, e perdida a função militar nos séculos seguintes, o castelo foi parcialmente restaurado na década de 40 do século XX. Recentemente, o IPPAR, em colaboração com a autarquia, adaptou-o a equipamento cultural.
PAF
(Info/imagem disponível em https://servicos.dgpc.gov.pt/pesquisapatrimonioimovel/detalhes.php?code=70155) |