Nota Histórico-Artistica: |
Tradicionalmente apontado como o mais antigo templo cristão da Covilhã, permanecem muitas dúvidas a respeito da sua exacta cronologia. A opinião mais consensual atribui a construção ao século XII, em relação com o foral passado por D. Sancho I à cidade, em 1186, e com a primitiva paróquia de São Martinho (GOMES, 2003, p.85). O mais natural, todavia, é que o monumento date, já, do século XIII, mais de acordo com o Românico tardio que caracteriza a transição para a Baixa Idade Média nas regiões do interior do país. Como se desconhece, por inteiro, o programa construtivo de finais do século XII para a cidade, a igreja de São Martinho institui-se como o monumento estilisticamente emblemático desses primeiros tempos de vida da Covilhã.
Implanta-se numa área excêntrica do actual centro histórico, em plataforma artificial ainda hoje dominante sobre a via pública e sobre a ribeira da Degoldra. Esta implantação sugere uma pré-existência de alguma relevância, que poderá estar na origem de um templo tão cronologicamente recuado em zona não fulcral da cidade medieval.
Planimetricamente, a igreja não apresenta novidades, justapondo-se ao rectângulo da nave um outro corpo rectangular, mais baixo e estreito, correspondente à capela-mor. A fachada principal, embora de modestas proporções, evidencia algum cuidado, com o portal cavado na caixa murária, composto por duas arquivoltas de arco de volta perfeita, sobre colunas cujos capitéis apresentam motivos vegetalistas. No tímpano, releva-se um elemento quadrifoliado. Sobre o portal, e ocupando o espaço axial até à empena, existe uma janela que filtra luz para o interior, definida à maneira de portal, com arquivolta de capitéis vegetalistas. Entre a janela e o portal, em posição horizontal e coerente entre si, existem quatro mísulas, que podem ter sido os pontos de apoio de um desaparecido alpendre. Os portais laterais são igualmente de arco a pleno centro, embora de maior simplicidade.
O interior é escassamente iluminado, como é comum no Românico, juntando-se à janela da frontaria duas minúsculas frestas em cada lado da nave. O arco triunfal mantém a composição românica, a pleno centro entre colunas de capitéis invariavelmente vegetalistas.
Durante a época moderna, foram várias as reformas artísticas por que o templo passou, que actuaram exclusivamente sobre os elementos integrados e móveis do conjunto. Na transição para o século XVI deram-se importantes obras, com colocação de azulejos, feitura de um retábulo de madeira (de que se conservam duas tábuas, representando Santo Estêvão e São Lourenço, actualmente na Reitoria da Universidade da Beira Interior) e realização de pinturas murais, cujos vestígios se encontram por trás dos retábulos laterais. No período barroco, fizeram-se os actuais retábulos de talha dourada, assim como uma tela alusiva ao Calvário.
Nos anos 50 do século XX, a igreja foi integralmente intervencionada, de acordo com a Teoria da Unidade de Estilo. O campanário que existia do lado Norte, e que se constituía em amplo maciço pétreo rectangular, de construção aparentemente medieval, foi destruído, assim como algum recheio do interior, sem, todavia, chegar às atitudes drásticas que se verificaram em outros conjuntos medievais, que nos parecem hoje demasiado "despidos" e, por isso mesmo, artificiais.
PAF
(Info disponível em https://servicos.dgpc.gov.pt/pesquisapatrimonioimovel/detalhes.php?code=73628) |