Nota Histórico-Artistica: |
Situada na Serra da Estrela, local privilegiado de criação de gado e plataforma das rotas de transumância, a Covilhã é conhecida desde o século XII como um "(...) espaço social singular, caracterizado por uma acentuada extensão do trabalho dos lanifícios (...)" (PINHEIRO, 1998, p. 46).
Nas centúrias seguintes, destacou-se pela grande produção de lanifícios, sempre considerados de excelente qualidade, e a partir do século XVI registou-se uma preocupação por parte da Coroa em proteger a manufactura dos panos (GOMES, 2003). As acções mais marcantes são as medidas tomadas por D. Sebastião em 1573, que promulgou o Regimento dos Panos, datando desta época a criação da Fábrica d'El Rei , e o crescimento da manufactura e oficinas locais durante o reinado de D. Pedro II (PINHEIRO, 1998, p. 17).
Em 1758, face à crise das manufacturas nacionais, o Marquês de Pombal mandou realizar um inquérito à situação dos "teares que tem a vila da Covilhã", tomando nos anos seguintes várias medidas de fomento industrial local que culminaram com a fundação da Real Fábrica de Panos da Covilhã em 1764, cujo objectivo era funcionar como um "(...) pólo dinamizador da indústria local (...) [criando] um nível técnico de aperfeiçoamento das operações de tinturaria e ultimação dos panos (...)", assegurando a qualidade da produção e a formação dos aprendizes (Idem, ibidem, p. 18).
O edifício, construído na Ribeira da Goldra, foi planificado por Bento José da Costa Matos e João Álvares, destacando-se o "(...) caracter monumental que as dimensões, os materiais e os cuidados de edificação atestam (...)" (Idem, ibidem, p. 20).
A fábrica era composta por quatro alas rectangulares, dispostas em torno de uma praça central, apresentando fachadas de modelo pombalino . No interior dispunham-se, no primeiro piso, as tinturarias, as casas que albergavam os teares, divididos consoante as dimensões, e casas para prensas, composição de tintas e armazenamento de lãs; o segundo piso era ocupado pelos serviços administrativos, armazéns vários, salas de fiação e alojamento dos aprendizes (Idem, ibidem, p. 21).
Em 1822, a fábrica seria encerrada, e as suas funções militares posteriores em muito contribuíram para a transformação e degradação do espaço. Em 1975 instalou-se no local a Universidade da Beira Interior, e foi durante as obras de adaptação do edifício às suas novas funções académicas que foram postas a descoberto algumas fornalhas e poços cilíndricos das instalações de tinturaria da Real Fábrica de Panos.
O conjunto corresponde às antigas salas de pequeno tinte , integrando 3 fornalhas, 8 dornas, dispostas paralelamente com canalizações de granito, a de grande tinte ou tinturaria dos panos de lã, com caldeiras e chaminés, um tanque, a tinturaria de lãs em meada, com uma fornalha e suporte de caldeira, e a designada Galeria das Fornalhas, com três chaminés e várias bocas de fornalha.
Depois de uma profunda intervenção arqueológica na área, esta foi transformada num núcleo museológico, o Museu de Lanifícios da Universidade da Beira Interior, cujo projecto de adaptação do espaço foi executado pelo Arquitecto Nuno Teotónio Pereira. As obras iniciaram-se em 1990, e a inauguração decorreu em Abril de 1992.
Catarina Oliveira
GIF/IPPAR/ Junho de 2006
(Info/imagem disponível em https://servicos.dgpc.gov.pt/pesquisapatrimonioimovel/detalhes.php?code=74246) |