Nota Histórico-Artistica: |
𝗜𝗺𝗼́𝘃𝗲𝗹
Localizado junto ao caminho de Alcongosta, na vila de Alpedrinha, o Palácio do Picadeiro foi edificado nas últimas décadas do século XVIII, albergando atualmente um núcleo museológico que integra o Centro de Interpretação da Rota da Transumância. Nas suas imediações situam-se a Capela de São Sebastião e o Chafariz Real, ou das Seis Bicas.
De planta retangular disposta longitudinalmente, o edifício divide-se em três pisos, apesar de a fachada enunciar apenas dois. O imóvel é precedido por um pátio quadrado, delimitado por muro, a que se chamava "Picadeiro" por ser aí que, à época da edificação, se realizavam treinos de equitação.
Apesar de modernizado pelas obras de adaptação a espaço expositivo, mantém o modelo de arquitetura solarenga original, com frontispício simétrico marcado pela abertura de janelas e portas, cuja divisão em três panos é assinalada pela disposição de contrafortes rematados por urnas. Os panos laterais são correspondentes, com porta rasgada na extremidade ladeada por uma janela e encimada por outras duas, todas de peito. O corpo principal apresenta porta rasgada ao centro, ladeada por janelas e encimada por varandim (a que foi retirada a guarda), também com duas janelas laterais. Sobre este foi colocado o brasão da família Sarafana, proprietária original do solar. A fachada lateral direita é visível, apresentando janelas de sacada, a esquerda está coberta por vegetação circundante e o espaço traseiro do imóvel está vedado ao público.
O interior divide-se em três andares, apresentando paredes de aparelho de granito que recriam a estrutura original, e o acesso aos andares superiores é feito por escadarias. A intervenção museológica alterou a disposição primitiva do espaço, embora o projeto executado tenha tido a preocupação de não desvirtuar a construção existente, não se sobrepondo a esta.
𝗛𝗶𝘀𝘁𝗼́𝗿𝗶𝗮
Mandado construir no último quartel do século XVIII pelo magistrado Francisco Sarafana, o Palácio do Picadeiro terá sido edificado sobre a "Casa Quadrada", uma antiga residência apalaçada pertencente à família Taborda que posteriormente passou para o domínio dos Jesuítas. A obra do novo palácio foi dirigida por Carlos Correia de Castro, mestre pedreiro minhoto, que executou um programa solarengo devedor de gosto barroco, harmonizado com o vizinho Chafariz Real, edificado em 1714. O projeto compreenderia uma estrutura mais ampla, mas ficou inacabado por falta de verba da família, que se manifestou aquando do falecimento prematuro dos encomendantes.
Depois da morte do proprietário e da sua esposa, D. Ana Luísa Serpe e Silva, o imponente edifício passou a ser habitado esporadicamente pela família, que o desocupou definitivamente em 1859. Depois desta data os Sarafana arrendaram o espaço, que até ao início do século XX teve inúmeras utilizações, nomeadamente como tribunal de comarca, oficina tipográfica do jornal Estrela da Beira e hospital temporário da Misericórdia. Depois de 1902, o imóvel entrou em progressiva decadência até que foi adquirido pela Câmara Municipal do Fundão em 1978. No ano de 1999 o espaço foi cedido à Liga dos Amigos de Alpedrinha, visando a reabilitação do espaço.
Depois de alguns projetos não concretizados - nomeadamente o que previa a adaptação do imóvel a Casa da Cultura, assinado pelo arquiteto José Castanheira em 2001 - o Palácio do Picadeiro foi finalmente recuperado em 2009, com o projeto do Centro de Interpretação da Rota da Transumância, da autoria do arquiteto Miguel Correia.
Catarina Oliveira
DGPC, 2016 |