Nota Histórico-Artistica: |
Sabe-se muito pouco acerca das origens do castelo de Monsanto. Apesar de, durante muito tempo, se ter considerado a existência de um castro proto-histórico, posteriormente romanizado, a verdade é que, à excepção da villa de São Lourenço, no sopé do monte, nada mais apareceu que relacione esta fortaleza com um passado pré-medieval. De resto, as informações concretas só aparecem no reinado de D. Afonso Henriques, altura em que Monsanto desfrutou de uma posição privilegiada de fronteira. Face a Leão mas, principalmente, frente aos Almóadas (MARQUES, 1995, p.33), o nosso primeiro monarca passou-lhe foral em 1174, numa altura em que o retrocesso cristão se fazia já sentir.
Neste mesmo contexto, Monsanto e Idanha foram doados à Ordem dos Templários, encarregues de efectivar a defesa da capital do reino, Coimbra, pelo Sul e pelo Leste. A fortificação por eles erguida não chegou até aos nossos dias. Com certeza seria um castelo plenamente românico, com torre de menagem isolada no centro do recinto interior, como as fortalezas templárias contemporâneas de Tomar, Almourol ou Pombal.
Duarte de Armas, nos inícios do século XVI, desenhou um castelo com cinco torres, sendo uma, a central e mais alta, de menagem. Infelizmente, de todas essas, apenas uma (a Torre Atalaia, ou Torre do Pião) se mantém parcialmente, assim como modificada foi a estrutura que protegia a entrada principal, ao que tudo indica um cubelo redondo (GOMES, 1996, p.89). Também a cintura de muralhas foi bastante adulterada, não restando troços significativos da estrutura medieval.
Para estas alterações, muito contribuíram as guerras peninsulares, nos inícios do século XIX. Enquanto que a história da aldeia de Monsanto foi a de "uma descida persistente da população" (GOMES, 1996, p.89), em busca de melhores condições, o castelo permaneceu, durante largos séculos, como uma das mais impressionantes estruturas militares da Beira Interior, cuja relevância militar não passou despercebida a sucessivos exércitos.
Em 1813, o Major Eusébio Cândido Furtado deixou-nos uma relação dos trabalhos efectuados. Por ela apercebemo-nos da amplitude desta reforma: demolição de cinco torres; construção de três novas baterias para protecção da entrada; construção de um baluarte paralelo à muralha; aproveitamento da igreja do interior do recinto para armazém; etc. (publ. GOMES, 1996, pp.91-92). Anos depois, a explosão do paiol, no interior do castelo, e o desabamento de um rochedo granítico, que arrastou parte da muralha (GOMES, 1996, p.90), foram determinantes para a destruição da fortaleza templária.
Por esta caracterização sumária, facilmente se compreende como o aspecto actual do castelo pouco tem que ver com o período medieval. A fortaleza original, organizada em dois recintos (a alcáçova e a cerca que limitava o primitivo núcleo populacional) possuía outros tantos templos. No interior, a igreja de Santa Maria, edifício que chegou até nós como uma obra barroca demasiado adulterada. No exterior, perto da entrada principal, a pequena capela de São Miguel, modesto templo de nave única, que chegou até hoje como uma quase-ruína, destelhado e com acentuado desgaste de cunhais e de paredes. De um Românico tardio, já trecentista, é o mais eloquente testemunho do bairro residencial intra-muralhas, que Duarte de Armas desenhou, e que, no século XVIII, possuía ainda vinte fogos (MILHEIRO, 1972, p.99), mas que acabou por ser abandonado, por se situar demasiado longe dos locais de abastecimento. À entrada, e sem aparente relação com este templo, um conjunto de sepulturas escavadas na rocha, bastante destruído, poderá, um dia, vir a confirmar uma ocupação humana medieval anterior ao reinado de D. Afonso Henriques.
PAF
(Info/imagem disponível em https://servicos.dgpc.gov.pt/pesquisapatrimonioimovel/detalhes.php?code=69865) |