Nota Histórico-Artistica: |
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Erigida no centro da povoação de Álvaro, nas imediações da igreja matriz, a Capela da Misericórdia de Álvaro é um edifício de planta longitudinal, composta por nave e capela-mor, com sacristia e capela lateral adossadas a norte e a sul, respetivamente. Este templo corresponde ao modelo estruturado para a igreja-tipo de Misericórdia, um templo de nave única, sem capela-mor, formando um bloco homogéneo em caixa lisa "onde sopra o espírito do humanismo cristão erudito e severo" decorrente das normas artísticas decretadas pelo Concílio de Trento (Moreira: 2000, p. 151).
A fachada principal possui ao centro portal de moldura retangular simples, rematado por frontão triangular interrompido por nicho com a imagem da Virgem e ladeado pela lápide com inscrição que atesta a fundação da Misericórdia: "Esta Misericórdia foi fundada por Catarina Garcia viúva de Manuel Gomes Curado por seus filhos o Capitão Bartolomeu Gomes Cirado e Ana Curado David no ano 1597".
No segundo registo, sobre o portal, foi aberto um janelão com moldura em arco abatido e gradeamento. A fachada é rematada em empena, encimada por cruz.
A fachada lateral do lado do Evangelho apresenta portal e postigo, estando adossada à parede uma alminha pintada com a figuração de Nossa Senhora das Dores. A sacristia divide-se em dois registos, o primeiro com duas portas, o segundo com duas janelas, todas de moldura retangular. Sobre a sacristia foi colocada dupla sineira, em L, rematada por cruz e dois pináculos.
Na fachada lateral do lado da Epístola, onde se situa a capela lateral, foram abertos dois postigos de moldura retangular e foi colocada sobre a capela uma janela gradeada de moldura em arco abatido semelhante à da fachada principal. Era nesta fachada lateral que se encontrava originalmente a lápide memorial da fundação.
O interior do templo é coberto por teto de madeira pintada, formando falsa abóbada de berço abatido. Do lado do Evangelho ergue-se o púlpito de madeira com balaustrada; do lado da Epístola, abre-se um arco pleno que antecede uma capela lateral, dedicada ao Senhor dos Passos, com cobertura em caixotões de madeira e retábulo de madeira policromada. No piso, foi colocada a lápide tumular do Capitão José Rodrigues.
O arco triunfal possui lintel em arco pleno, com impostas salientes, e a capela-mor tem ao centro retábulo de talha dourada com esculturas da Virgem e de Santa Isabel. Duas estátuas, em tamanho natural, representando Nicodemos e José de Aritmeia, foram colocadas em nichos nas paredes laterais. O teto é de caixotões de madeira, pintados com as representações de 21 santos do Hagiológio.
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A data da fundação da Misericórdia de Álvaro continua indefinida, sendo possivelmente anterior a 1521, já que se supõe que a confirmação do seu primeiro compromisso terá sido dada ainda pelo rei D. Manuel I (Paiva: 2004, p. 379).
A lápide da fachada, que refere a data 1597, estará, por seu turno, ligada à fundação do templo e aos irmãos que patrocinaram a obra ou, pelo menos, integravam os corpos dirigentes da irmandade alvarense durante a empreitada.
No pequeno templo tardo-maneirista, de feições austeras, destacam-se as estátuas de vulto que estão no interior, representando, Nicodemos e José de Aritmeia, que são atribuídas a Tomé Velho, discípulo de João de Ruão (Serrão: 2001, p. 150), derivando possivelmente de um programa escultórico de maiores dimensões com a representação da Deposição no túmulo, uma tipologia relativamente comum nas Misericórdias beirãs na segunda metade do século XVI.
O edifício sofreu sucessivas campanhas de restauro no interior no século XVIII, datando desta época o retábulo da capela-mor.
A Capela da Misericórdia de Álvaro está classificada desde 1997.
Catarina Oliveira
DGPC, 2018
(Info disponível em https://patrimoniodgpc.maps.arcgis.com/apps/webappviewer/index.html?id=7f7d5674280f41849c0a0869ced22d91¢er=-7.965422,39.975589,4326&level=19. Imagem captada em abril 2024 @Google) |
Diploma de Classificação: |
A classificação como VC foi convertida para IM nos termos do n.º 2 do art.º 112.º da Lei n.º 107/2001, publicada no DR, I Série-A, N.º 209, de 8-09-2001 || Decreto n.º 67/97, DR, I Série-B, n.º 301, de 31-12-1997 |