Nota Histórico-Artistica: |
A presença romana nas actuais fronteiras físicas portuguesas pautou-se, tal como nos demais recantos do Império, pela implementação de uma política administrativa assente em dois vectores vitais para a sua perduração no tempo, estreitamente relacionada com o (re)ordenamento territorial, como parte fundamental de uma estratégia de domínio a impor sobre uma determinada área, mais ou menos vasta. Referimo-nos, em concreto, à definição de unidades político-administrativas, e ao traçado de vias que assegurassem uma ligação permanente e célere entre os principais centros populacionais, ao mesmo tempo que a sua renovação, face às exigências assomadas com o desenrolar dos acontecimentos registados em Roma.
A primeira destas traves mestras assentou essencialmente na definição territorial de civitates, as normais unidades político-administrativas romanas, aproximadas, no respeitante à área abrangida, aos actuais distritos, com a sua cidade capital, à qual se subordinavam outras unidades urbanas, assim como a respectiva população rural.
Mas o reordenamento territorial implicou de igual modo a constituição de outras unidades político-administrativas, como os oppida, que designariam aglomerados urbanos de alguma relevância, sendo possível que correspondessem a categorias jurídico-administrativas mais precisas, a partir das quais se organizaria hierarquicamente todo um sistema económico-político.
Neste contexto, tem-se sugerido a identificação de Talabriga, uma das capitais das três civitates nas quais se repartia o território de Scallabis e Eurobrittium até ao Mondego, com a mais vulgarmente conhecida por "Estação arqueológica do Cabeço do Vouga", situada nas proximidades de Lameiras do Vouga, erguida no cimo de um cabeço sobranceiro ao rio Mondego e à própria via que ligava Olisipo a Bracara Augusta, evidenciando, por conseguinte, um forte domínio sobre a paisagem circundante.
Parcialmente escavada ao longo do segundo quartel do século XX, por António Gomes da Rocha Madahil (1893-), um verdadeiro entusiasta e profundo conhecedor do passado de Ílhavo, sua terra natal, a estação tem sido objecto de sucessivas intervenções, sobretudo nos últimos anos, abrindo caminho a uma melhor compreensão da sua configuração original.
Estamos, por conseguinte, em presença de um povoado fortificado de altura erguido durante a Idade do Ferro da região (confirmada pela presença de uma habitação de configuração circular), reutilizado já durante o período romano, a exemplo de tantos outros exemplares da mesma tipologia, e numa clara asseveração da pertinência da sua localização em termos geo-estratégicos.
As investigações conduzidas até ao momento permitem caracterizar o sítio como possuindo um complexo sistema defensivo formado por linhas de muralha, uma das quais contrafortada, para além de estruturas situadas no recinto interior de planta predominantemente rectangular, ocupando uma área total com ca de quatro hectares.
Esta presença romana encontra-se, aliás, bem representada nos característicos materiais de construção, como tegulae e imbrices, a par de fragmentos cerâmicos, com especial relevo para as sigillata sudgálica e hispânica (cronologicamente balizadas entre os séculos I e IV d. C.), para além de ânforas.
[AMartins]
(Info/imagem disponível em https://servicos.dgpc.gov.pt/pesquisapatrimonioimovel/detalhes.php?code=69750) |
Diploma de Classificação: |
Rectificou o concelho para Águeda no DG, I Série, n.º 170, de 25-07-1947 || Decreto n.º 36 383, DG I Série, n.º 147, de 28-06-1947 (inclui a estação no concelho de Albergaria-a-Velha) |