Nota Histórico-Artistica: |
Em Portugal, o fenómeno Arte Nova ( art nouveau, modern style, estilo liberty ou jugendstill, como foi designada noutros países europeus), circunscreveu-se essencialmente ao plano decorativo, raramente interferindo a nível estrutural ou tirando partido dos novos materiais e das inerentes tecnologias de construção. Mais do que uma atitude de ruptura em relação ao passado, este movimento renovador das artes plásticas foi entendido "(...) como outro estilo a juntar ao caldeirão do ecletismo (...)" vigente (FERNANDES, 1993, p. 37), sendo muito marcado pela cultura académica e tradicional que então caracterizava o nosso país, e pela ausência de uma indústria forte (FERNANDES, 1993, p. 37).
É neste contexto que se insere o edifício da Cooperativa Agrícola de Aveiro, cuja fachada, profusamente decorada e repleta de linhas curvas, deixa adivinhar uma outra tendência da Arte Nova nacional e talvez a mais importante, pelo que teve de original - a aplicação de azulejos.
Construída no início do século XX, esta casa poderá ter sido desenhada por Francisco Augusto da Silva Rocha, arquitecto responsável pelo projecto de outras residências na cidade de Aveiro. De facto, e como refere Maria João Fernandes, esta atribuição tem por base a comparação com outras obras de Silva Rocha, em que se verifica "a mesma tipologia de desenho sobre azulejo da Casa da Rua do Carmo, n.º 12, o mesmo frontão da casa de Mário Pessoa e do Hospital de Aveiro e o desenho das janelas obedece a esquemas encontrados nos seus livros e documentos pessoais" (FERNANDES, Proposta de Classificação IPPAR/DRC, 1996).
Concretamente, apenas conhecemos a data dos azulejos - 1913 -, provenientes da Fábrica Fonte Nova, uma das indústrias cerâmicas mais importantes de Aveiro, activa entre o final do século XIX e inícios do seguinte (criada em 1882, foi alvo de incêndio em 1937), e que se salientou na produção de azulejaria arte nova (GASPAR, 1997, p. 146; MECO, 1993, p. 244).
Estes azulejos, em tons rosa, roxo e vermelho, desenhando lírios de caules verdes, acompanham as formas curvilíneas dos vãos da fachada, cujas molduras, tal como as cimalhas e mísulas, foram talhadas em pedra de ançã. O alçado principal divide-se em três registos, correspondendo a cada um, três vãos. No rés-do-chão as três entradas formam, no seu conjunto, um arco abatido. Nos restantes andares, cada vão desenha um arco do mesmo género, sendo que no primeiro a varanda é comum a todas as janelas e no segundo é individual. Remata o conjunto um corpo central revestido por azulejos. As grades das varandas, em ferro forjado, e os caixilhos das janelas, acentuam o dinamismo da fachada.
Ao submeter todos os elementos decorativos a uma mesma lógica - a da procura da linha curva, de inspiração orgânica, aliada à criação de formas delicadas e "esguias" -, foi possível criar uma superfície de grande unidade e coerência. Unidade essa que já não é possível encontrar no interior do edifício, originalmente pouco interessante, actualmente muito desvirtuado e sem mobiliário original (Câmara Municipal de Aveiro, 1999, p. 6).
(Rosário Carvalho)
(Info disponível em https://servicos.dgpc.gov.pt/pesquisapatrimonioimovel/detalhes.php?code=73045. Imagem captada em abril 2024 @Google) |