Nota Histórico-Artistica: |
À semelhança do edifício da Cooperativa Agrícola ou da Casa do Doutor Peixinho, também este imóvel, situado junto à Ria de Aveiro, constitui um dos exemplos mais significativos da expressão que o movimento Arte Nova alcançou nesta cidade piscatória. Construída entre os anos de 1907 e 1909, sob projecto do arquitecto aveirense Francisco Augusto da Silva Rocha, a casa do Major Pessoa destaca-se pela fachada profusamente decorada, onde foram empregues diferentes materiais, que convergem numa composição geral marcada pela procura da linha curva e pela ornamentação de inspiração floral.
Ao contrário de outros países europeus, onde a arte nova alcançou grande fortuna enquanto (...) fenómeno de transição para o futuro movimento moderno dos anos 20 (...)" capaz de "(...) despertar a atenção para a necessidade de mudança que a situação retrógada do ecletismo oitocentista tornava essencial" (FERNANDES, 1993, p. 37), em Portugal este fenómeno restringiu-se, de uma forma genérica, à modelação das superfícies, relegando para segundo plano a estrutura e as novas tecnologias de construção.
No caso específico da Casa do Major Pessoa, a eventual intervenção de Korrodi conferiu a este edifício uma pureza de desenho, conjugada com a nova linguagem curva e ondulante, de inspiração natural, que tanto caracterizou a arte nova aveirense. A fachada, de três pisos, é revestida a cantaria decorada com motivos de malmequeres, lírios, folhas de acanto, girassóis, entre outros. No rés-do-chão, os vãos são separados por dupla coluna de bronze, e protegidos por grades de ferro forjado de desenho de inspiração vegetal. No primeiro piso, o espaço entre as três varandas é decorado por painéis de esmalte, sendo que no segundo andar uma arcaria percorre toda a superfície, protegida por um varandim em ferro. Remata a fachada um óculo inserido num arco japonês, cuja utilização, bastante comum em Aveiro, é visível ainda no edifício da Barrica ou no hotel das Américas. No topo do edifício ergue-se uma águia de grandes dimensões, sobre uma serpente, destacando-se ainda, em bronze dourado, a data de construção da casa e as iniciais do proprietário.
No pátio posterior, ao qual se acede através de um portão com as mesmas iniciais do Major Pessoa, existe um painel de azulejos com a data de 1907 e as assinaturas de Licínio Pinto e Carlos Branco, produzido na Fábrica Fonte Nova, a mais importante indústria cerâmica da região no campo da arte nova.
(Rosário Carvalho)
(Info disponível em https://servicos.dgpc.gov.pt/pesquisapatrimonioimovel/detalhes.php?code=74836. Imagem captada em abril 2024 @Google) |