Nota Histórico-Artistica: |
𝗜𝗺𝗼́𝘃𝗲𝗹
Localizada nos números 12 e 14 da Rua do Carmo, em Aveiro, ao lado do antigo Convento do Carmo a Residência Silva Rocha é uma habitação familiar de planta retangular, dividida em quatro andares, que se dispõe perpendicularmente em relação ao arruamento. No conjunto destacam-se a fachada e o seu programa decorativo de gosto arte nova, que explora a linha curva no tratamento das molduras dos vãos e no desenho dos azulejos.
No piso térreo destaca-se um grande arco abatido, decorado por duas grandes palmas que enquadram um busto feminino ao centro. O arco sobrepõe dois vãos seprados por pilar com capitel floral, o da esquerda o correspondente à porta de entrada principal, o da direita albergando uma janela de peito com guarda de ferro. Este conjunto é ladeado por dois janelos encimados por pequeno frontão triangular com motivo insculpido.
No primeiro andar, ergue-se uma varanda que assenta em mísulas decoradas com folhas de jarro, protegida por grade em ferro forjado com motivos florais. As portas de acesso a este balcão definem um arco idêntico, e simétrico, ao do piso inferior, sendo o busto feminino substituído por um medalhão colocado no centro das palmas, com as iniciais S R. De cada um dos lados da varanda foi colocado, na vertical, um friso de azulejos com motivos florais, e junto à base do balcão, a cada um dos lados, três azulejos soltos, de inspiração oriental.
No eixo da varanda foi rasgada, no último andar, uma janela de peito com moldura em arco abatido e guarda em ferro forjado, ladeada por dois frisos de azulejos com motivos florais colocados na horizontal, iguais aos do piso anterior. A janela entrecorta o beiral do telhado, formando uma espécie de mansarda.
A fachada é acompanhada lateralmente por um muro alto, que delimita os espaços exteriores à casa; à esquerda, possui uma porta, também em arco rebaixado e delimitada por dois contrafortes; à direita, o muro é rasgado por vãos cegos, dispostos simetricamente, abrindo-se no seu extremo o portão da garagem.
No interior, destaca-se os espaços do hall de entrada, com azulejos decorativos e tijoleira no revestimento do piso, e da sala principal, com um fogão em ferro forjado, colocado sobre pedra de ançã com relevos, e um teto de estuque decorado com motivos vegetalistas.
𝗛𝗶𝘀𝘁𝗼́𝗿𝗶𝗮
Nascido em 1864 na Mealhada, o arquiteto Francisco Augusto Silva Rocha fixou-se em Aveiro nas últimas décadas do século XIX, trabalhando como Desenhador das Obras Públicas da cidade e como professor da escola da Fábrica de Porcelana da Vista Alegra. Silva Rocha foi um dos fundadores da Escola de Desenho Industrial de Aveiro, tendo sido seu diretor e professor.
Este arquiteto foi o responsável pelo desenho de vários edifícios arte nova da cidade, entre os quais a Casa do Major Pessoa, a Casa de Florentino Vicente Ferreira, a Casa do Dr. Peixinho ou a própria Escola de Desenho Industrial. Deste grupo faz também parte a sua moradia familiar na Rua do Carmo, erigida entre 1904 e 1906.
Para a residência, Silva Rocha desenhou um projeto que exibe motivos muito característicos da linguagem arte nova, explorando as formas naturais e femininas, ambas bem presentes na decoração desta fachada. Desta forma, o arquiteto não deixaria de integrar a sua habitação na renovação estética que caracterizou de forma tão marcante a expansão de Aveiro no início do século XX, e da qual foi o grande impulsionador.
O conjunto é marcado pela elegância das linhas da sua fachada, utilizando no programa decorativo materiais de eleição do movimento Arte Nova, como o azulejo e o ferro. O arquiteto procurou conceber um projeto com unidade e harmonia, introduzindo a mesma linguagem da fachada na decoração dos interiores, onde, além dos azulejos e do estuque dos tetos, se destaca o fogão de sala em ferro forjado, um interessante exemplar de mobiliário arte nova desenhado por Ernesto Korrodi.
Catarina Oliveira
DGPC, 2019
(Info/imagem disponível em https://servicos.dgpc.gov.pt/pesquisapatrimonioimovel/detalhes.php?code=155608) |