Nota Histórico-Artistica: |
Percurso evocativo da caminhada de Jesus pelas ruas de Jerusalém, desde o Pretório de Pilatos até ao Calvário (já fora dos muros da cidade), a Via Sacra foi recriada nos mais variados locais, para recordar, a quem a percorresse, a Paixão de Cristo, observando a iconografia presente em cada uma das estações.
O período barroco, com toda a carga cenográfica e penitencial que lhe é própria, recriou com frequência esta ideia de caminho que conduz à vida eterna, ou percurso de Salvação, através dos longos escadórios evocativos da Paixão de Cristo, e de que são exemplo, entre outros, o santuário do Bom Jesus do Monte, ou a Via Sacra do Buçaco. No caso de Ovar, e tal como acontece em tantas outras vilas e cidades, a Via Sacra é um trajecto urbano, constituído por um conjunto de cinco passos integrados na malha urbana, pela capela do Pretório, junto ao alçado lateral da igreja matriz, e pela capela do Calvário, esta última de grandes dimensões e à qual se acede através de uma longa escadaria.
A procissão dos Passos de Cristo era uma tradição antiga de Ovar, realizada com figuras de palha e com capelas portáteis até à construção deste conjunto, ocorrida entre 1747 e 1756. Inicialmente, eram edificações isoladas, que a cidade foi integrando e envolvendo por outros imóveis de maiores dimensões.
O primeiro passo é o da capela do Pretório, na igreja matriz, rematado por frontão de volutas interrompido e com retábulo de talha polícroma no interior. Os restantes cinco conservam uma estrutura idêntica, com fachada-portal definida por pilastras, coroada por cimalha curva assente sobre aletas e decorada por enrolamentos de folhas de acanto. Sobre o frontão triangular, encontram-se dois balaústres laterais e uma cruz na empena. As portadas são de madeira e foram acrescentadas posteriormente. No interior, as paredes são pintadas e os retábulos são de talha dourada e polícromada com esculturas de grandes dimensões, numa iconografia que se relaciona com o respectivo passo - Senhor caído por terra, Encontro, Cireneu, Verónica e Filhas de Jerusalém.
Por fim, a capela do Calvário é antecedida por uma longa escadaria, apenas concluída em 1782 e, segundo se crê, desenhada por Francisco Rodrigues Ferreira (GONÇALVES, 1981). A sua fachada divide-se em três corpos, correspondendo os laterais à sacristia e o central à nave. Este, é definido por pilastras e aberto pelo portal principal, em arco ultrapassado, que se relaciona com o registo seguinte, em cantaria, e onde uma janela de moldura recortada antecede o remate em frontão de lanços, ao centro do qual e ergue uma cruz. Nos corpos laterais, as portas são de moldura recortada e remate semicircular.
No interior, com nave única de dois tramos, destaca-se a composição do Calvário, com esculturas de grandes dimensões. Esta, marca o final de um longo percurso pelas ruas da cidade, evocativo dos principais passos de Jesus a caminho do Calvário, à qual se acede depois de ultrapassar a escadaria que antecede o templo e percorrer o espaço interno daquela que é a capela de maiores dimensões e aparato de todo o conjunto.
(Rosário Carvalho)
(Info disponível em https://servicos.dgpc.gov.pt/pesquisapatrimonioimovel/detalhes.php?code=74015. Imagem captada em abril 2024 @Google) |