Nota Histórico-Artistica: |
A Diocese de Leiria foi criada por bula papal em 22 de Maio de 1545 ficando, então, separada em definitivo tanto do bispado de Coimbra como do priorado do Mosteiro de Santa Cruz conimbricense.
Instalada provisoriamente na Igreja de São Pedro, um templo pequeno que não satisfazia os requisitos necessários ao espaço litúrgico de uma sede diocesana, logo em 1546 o bispo Frei Brás de Barros fez diligências junto de D. João III para que se edificasse uma igreja "conueniente em lugar homde commodamente e com menos opresam" os fies pudessem assistir aos ofícios litúrgicos (JORGE, 2005, p. 108). Em Julho de 1551 registou-se a chegada do arquitecto Afonso Álvares à cidade com a planta da nova sé (idem, ibidem).
Os trabalhos de construção da catedral iniciaram-se em Agosto de 1559, com o lançamento da primeira pedra, estando a capela-mor terminada em 1569; no ano seguinte iniciava-se a construção do corpo da igreja, que se finalizava em 1572 com a edificação da fachada (idem, p. 109). Em 1574 dava-se por terminado o edifício, na sua generalidade.
Destacando-se por uma estrutura em que a "escala, nudez de paramentos e geral espacialidade do corpo são verdadeiramente monumentais" (SERRÃO, 2002, p. 189), a Sé de Leiria adopta "o figurino das novas igrejas jesuíticas", embora esta fosse "uma solução incompatível com uma igreja-mãe diocesana" e, por isso mesmo, não voltasse a ser utilizada nas catedrais que se edificaram posteriormente em Portugal (JORGE, 2005, p. 103).
De planta cruciforme, possui transepto saliente com corpo tripartido e cabeceira dividida em três capelas de diferentes profundidades. A fachada denuncia a campanha de reconstrução executada depois do terramoto de 1755, numa estrutura simétrica e despojada de grandes elementos decorativos. Divide-se em três tramos, marcados por quatro robustas pilastras, exibindo três portais de moldura circular enquadrados em pórticos de pedra e encimados por janelões; dos três, destaca-se o central, de maiores dimensões. Adossado à cabeceira ergue-se o claustro, com três galerias toscanas coroadas por abóbada de caixotões a delimitar o pátio.
O espaço interior, coberto por abóbadas de nervura, divide-se em três naves amplas erguidas à mesma altura, cujos tramos assentam sobre oito pilares "que exprimem o vigor da estrutura, ritmam a composição e perturbam visualmente o espaço harmónico" (Idem, ibidem, p. 106).
A capela-mor alberga o imponente retábulo de gosto serliano, considerado "um dos grandes conjuntos de talha, escultura e pintura da retabulística maneirista que subsistem em Portugal ainda montados no seu primitivo lugar" (SERRÃO, 2005, p. 157). Embora se desconheça a autoria quer da traça da estrutura retabular quer das esculturas de vulto, as pinturas em tábua que o integram são atribuídas ao reputado mestre lisboeta Simão Rodrigues, conforme atesta o autor de O Couseiro..., que refere ainda Amaro do Vale como o autor das tábuas do retábulo da Capela do Santíssimo Sacramento (idem, ibidem, pp. 157-158).
Dividido em três níveis, o conjunto retabular albergava no primeiro a Adoração dos Pastores, destruído quando das Invasões Francesas, ladeado pelas esculturas de São João Evangelista e São Lucas, sob as quais se abrigam quatro tabuinhas com a representação dos Tetramorfos. Ao nível central, expõe a Assunção da Virgem flanqueada pelas figuras de vulto de São Mateus e São Marcos. No ático, o medalhão central expõe a Coroação da Virgem, ladeado pelas tábuas de São Pedro e São Paulo.
Catarina Oliveira
DIDA/ IGESPAR, I.P/ Março de 2011
(Info disponível em https://servicos.dgpc.gov.pt/pesquisapatrimonioimovel/detalhes.php?code=14955162. Imagem captada em abril 2024 @google) |