Nota Histórico-Artistica: |
𝗜𝗺𝗼́𝘃𝗲𝗹
O Mosteiro de Santa Maria da Vitória, vulgo Batalha, encontra-se implantado num vale aluvionar, com as seguintes coordenadas GPS: latitude: 39º39'36.41 N; longitude: 8º49'31.60 W. A norte, nascente e sul, confronta com o casario da vila da Batalha, e a poente, com o IC2.
O conjunto conventual dominicano conservado inclui: a igreja e a respetiva sacristia; os claustros (de D. João I e de D. Afonso V) com as dependências anexas correspondentes; duas capelas funerárias autónomas (Capela do Fundador e Capelas Imperfeitas). Foi construído entre aproximadamente 1387 e 1533. O projeto inicial comportava apenas a igreja, a sacristia e o claustro que lhe é anexo. Entre 1541 e 1562, aproximadamente, edificaram-se a última cerca conventual e outros dois claustros, demolidos no último terço do século XIX.
𝗛𝗶𝘀𝘁𝗼́𝗿𝗶𝗮
A edificação do mosteiro da Batalha resulta de um voto feito à Virgem, por D. João I, no dia anterior à batalha de Aljubarrota, que, por sua vez, teve lugar na véspera da festa da Assunção de Nossa Senhora, a 14 de Agosto de 1385. Ao símbolo votivo que o edifício representava, veio juntar-se um novo significado como panteão da dinastia de Avis, a partir de 1416.
A obra conservada inscreve-se nos períodos gótico radiante, flamejante e linear, e nas épocas manuelina e renascentista. O primeiro projeto manifesta a tradição patente nas obras do deambulatório da Sé de Lisboa e no coro alto de São Francisco de Santarém, refletindo as aquisições gerais da arquitetura mendicante em território nacional, desde o início do século XIII. Os trabalhos de conclusão da igreja e do claustro adjacente, bem como os da Capela do Fundador e a obra inicial das Capelas Imperfeitas acusam uma formação norte-francesa, catalã e possivelmente borgonhesa do segundo arquiteto, Huguet. A obra deste mestre, falecido em 1438, é continuada por Martim Vasques, cuja arquitetura não se distingue da do seu antecessor. Fernão de Évora, que dirigiu o estaleiro de 1448 a 1477, faz a sua aprendizagem com Martim Vasques, de quem era sobrinho, tendo trabalhado certamente na abóbada da sala capitular, na conclusão do primitivo dormitório, na construção do refeitório e no prosseguimento do panteão de D. Duarte (Capelas Imperfeitas). Porém, a sua obra mais conhecida é o segundo claustro, de D. Afonso V, que se distingue pela reação austera às soluções arquitetónicas e decorativas flamejantes.
A arquitetura de Fernão de Évora é afim da de edifícios que se encontram no território da antiga Coroa de Aragão e teve ecos importantes na encomenda régia e principesca em Portugal, nomeadamente no claustro do mosteiro do Varatojo e na igreja de Santiago do castelo de Palmela. Mateus Fernandes, sucessor de Fernão de Évora, dispensado da obra em 1480, por D. João II, e readmitido em 1490, é o pai da arquitetura que, no século XIX, se consagrou com o nome de manuelina. Além da prossecução das Capelas Imperfeitas, D. Manuel I encarrega-o de uma importante atualização estética do claustro mais antigo (Claustro Real ou de D. João I), da construção de uma nova sala capitular no canto nordeste do mesmo, através da compartimentação do primitivo dormitório (demolida à volta de 1940) e da abertura de um portal monumental alinhado com a porta que dá acesso da igreja ao claustro. As soluções de abobadamento que utilizou nas capelas radiantes do antigo panteão de D. Duarte e aquela que preconizou para a cobertura do octógono visível nos arranques das nervuras correspondentes mostram a continuação da aprendizagem do arquiteto num contexto extranacional, durante o período de ausência da Batalha, certamente o estaleiro da Capela do Condestável, na catedral de Burgos.
Em 1528, João de Castilho é chamado a continuar a obra do antigo panteão de D. Duarte, depois de D. Manuel e agora de D. João III, de que apenas construiu a abóbada do vestíbulo.
Pedro Redol
(Info/imagem disponível em https://servicos.dgpc.gov.pt/pesquisapatrimonioimovel/detalhes.php?code=70099)
DGPC / Mosteiro de Santa Maria da Vitória, Batalha
2017 |