Nota Histórico-Artistica: |
O solar dos Condes de Prime situava-se no denominado "cimo da vila", um espaço que, no século XVIII, era ainda pouco habitado, mas que se tornou bastante denso com a renovação urbana do período barroco. De tal forma que hoje se lamenta a não existência de um largo que permita usufruir plenamente da magnífica fachada deste solar, um dos mais significativos da cidade de Viseu e da arquitectura civil portuguesa deste século (CORREIA, 1989, p. 33).
José Teixeira de Carvalho foi o seu primeiro proprietário, tendo a Casa passado para a posse dos Condes de Prime pelo casamento da sua trineta Maria da Glória Teixeira de Carvalho Sampaio da Rocha Velho com o Barão de Prime. O Solar é também conhecido por Casa dos Ernestos, designação que se deve aos descendentes de José Teixeira de Carvalho, uma vez que o seu filho e neto se chamavam, respectivamente, José Ernesto e António Ernesto (MOREIRA, 1937, p. 39).
A construção do edifício remonta, assim, à primeira metade do século XVIII, sendo que a capela data de 1748, conforme atesta a inscrição patente no portal da mesma. Os elementos decorativos que definem ambos os espaços foram sendo progressivamente integrados - os azulejos em 1750 e o retábulo da capela quatro anos mais tarde.
Como já referimos, este solar é um dos exemplos mais interessantes da arquitectura civil do século XVIII, uma vez que expressa, através das suas opções arquitectónicas, a concepção construtiva dominante neste período, em matéria de construções solarengas. Assim, e se a arquitectura civil portuguesa não foi pródiga na utilização de plantas dinâmicas, preferindo manter as soluções maneiristas anteriores, as soluções barrocas manifestaram-se, sobretudo, ao nível da animação das fachadas, que exploraram a plasticidade dos ornatos, ou as sequências rítmicas das janelas, na construção de uma cenografia urbana de grande impacto (AZEVEDO, 1969, pp. 65-73).
Tal é o caso do Solar dos Condes de Prime, que apresenta uma planta rectangular, com fachada principal constituída por dois blocos separados por pilastras, a que se junta a capela adossada. O desenvolvimento horizontal do conjunto é evidente, reflectindo a procura de uma estabilidade, tão característica desta época, e que se pauta pela adopção de apenas dois andares. O andar nobre é o mais importante, distinguindo-se pelo tratamento dos vãos, mais cuidados relativamente ao piso inferior, de moldura mais estática e rectilínea.
À semelhança da grande maioria das casas setecentistas, a entrada principal assume especial relevância, sendo que no Solar dos Condes de Prime coexistem duas portas, uma em cada secção da fachada, ambas quebrando a linha das janelas superiores e terminando em frontão interrompido com o brasão da família.
A capela distingue-se pelo remate triangular, ladeado por fogaréus e encimado por uma cruz. O portal principal articula-se com a janela superior, ambos com molduras de granito de gosto rocaille. No seu interior, o tecto exibe pintura em trompel'oeil com a representação das três virtudes teologais e a apoteose de Santo António. As paredes laterais são revestidas por azulejos e o retábulo-mor é de talha dourada, de estilo nacional.
No Solar, destaca-se a escadaria do átrio, com patamar que separa os dois acessos laterais ao andar nobre, e revestimento azulejar polícromo, de fabrico lisboeta. Estão aqui representadas cenas de caçadas ao urso, ao javali, à lebre a ao veado. No andar superior, encontra-se uma sala com revestimento cerâmico, outra com tecto estucado, e o conhecido salão de baile, revestido por damasco amarelo, que foi palco de inúmeras festas e onde foi recebida a rainha D. Amélia, em 1894 (VALE, 1969, p. 75).
(Rosário Carvalho)
(Info/imagem disponível em https://servicos.dgpc.gov.pt/pesquisapatrimonioimovel/detalhes.php?code=73767) |