Nota Histórico-Artistica: |
No contexto da arquitectura religiosa barroca de Viseu, a igreja de Santo António ganha especial relevância devido ao conjunto de azulejos barrocos que reveste o seu interior. A igreja pertencia ao antigo convento do Bom Jesus, de feiras beneditinas, existente na cidade desde 1592 (CORREIA, 1989, p. 50). Foi reedificada no século XVII, conforme a data inscrita no portal (1628), que deverá assinalar o final desta campanha de obras.
A fachada, de linhas simples, é rematada por frontão triangular, ao centro do qual se exibe uma pedra de armas. O portal principal, de linhas rectas, é encimado por um nicho de frontão interrompido. Ladeiam-no duas janelas de verga recta. Três cruzes em forma de cruz rematam as pilastras laterais e a empena.
No interior, a planta rectangular desenvolve-se em nave única com coro alto sobre arcos de volta perfeita. Todos os altares, incluindo o altar-mor, apresentam retábulo de talha dourada, de gosto rocaille. De acordo com a inscrição do arco triunfal, o altar-mor foi executado em 1749 pelo entalhador João Correia Monteiro, a expensas de José Guedes da Silva e da sua segunda mulher (SIMÕES, 1997, pp. 56-57).
O conjunto dos azulejos dos séculos XVII, no convento, e XVIII, na igreja, constituem um dos núcleos mais significativos da região (SIMÕES, 1979, p. 125). Na capela-mor, as paredes laterais são revestidas por azulejos de padrão, em tons de azul e branco ou polícromo. Aproveitando elementos de época anterior, este espaço exibe dois painéis representando São Bento e Santa Escolástica, que têm vindo a ser atribuídos a Gabriel del Barco, o mais significativo pintor de azulejos do final do século XVII activo em Portugal. Do lado do Evangelho, encontra-se ainda um outro painel alusivo à Eucaristia, ladeada por dois anjos ajoelhados, polícromos. No registo seguinte, desenvolve-se um friso com meninos nus a transportar festões floridos. Os painéis hagiográficos exibem cercaduras com máscaras no canto. No intradorso do arco encontram-se vasos floridos carregados por anjos.
Na nave da igreja, os painéis deverão ter sido executados entre 1730 e 1740. A parte inferior exibe figuras de atlantes, de grandes dimensões, com grinaldas. Acima do friso, em dois andares sobrepostos, surgem várias representações de cena das vida de São Bento. No arco triunfal, alguns anjos transportam emblemas beneditinos.
Muito embora a autoria do revestimento cerâmico da nave tenha vindo a ser atribuída à família dos Oliveira Bernardes (CORREIA, 1989, p. 50), o historiador norte-americano Robert Smith veio revelar as semelhanças existentes entre alguns pormenores deste conjunto e outros painéis de azulejo existentes em São Domingos de Benfica, em Lisboa, estes atribuídos ao mestre P.M.P. (SMITH, p. 400). O que permitiu estabelecer uma base de comparação estilística que filia os azulejos de Viseu na órbita da obra deste mestre de nome desconhecido, opinião partilhada por Santos Simões. O Mestre P.M.P. foi um dos artistas que revelou o forte ascendente da obra de António de Oliveira Bernardes, muito embora se tenha caracterizado por uma expressão mais ingénua e de menor erudição, comparativamente com os outros pintores seus contemporâneos.
(Rosário Carvalho)
(Info/imagem disponível em https://servicos.dgpc.gov.pt/pesquisapatrimonioimovel/detalhes.php?code=73768) |