Nota Histórico-Artistica: |
Recentemente classificada, a "Anta de Pendilhe" situa-se na localidade que lhe deu nome, sendo localmente mais conhecida por "Casa da Moura".
Uma designação que revela bem as lendas que desde cedo povoaram o imaginário popular, atribuindo a construção e fruição destes exemplares arqueológicos ao período da ocupação islâmica do actual território português. Uma dedução compreensível à luz da noção de "tempo" antigo vigente ao longo dos séculos, mesmo depois de o annus mirabilis da Arqueologia (1859) acrescentar algumas novidades, sobretudo no respeitante ao olhar sobre a antiguidade humana, remetendo-a para um período bastante anterior ao consagrado nas "Sagradas Escrituras".
Estamos, assim, perante um monumento megalítico funerário erguido durante o Neo-calcolítico estabelecido para esta região do actual território português.
Composto de câmara funerária de planta poligonal composta de nove esteios (o maior dos quais correspondente ao de cabeceira, onde existiram pinturas), ostentando ainda a laje - ou "chapéu" - de cobertura, o dólmen - ou anta, como são mais conhecidos estes exemplares no interior do nosso país - exibe um longo corredor com quatro metros de comprimento (embora remanesçam apenas dois dos seus primitivos esteios), tendo a mamôa - ou tumulus - sido entretanto destruída pelos sucessivos trabalhos agrícolas desenvolvidos nas suas imediações.
De um ponto de vista meramente morfológico, este exemplar inserir-se-á num dos tipos de sepulcros sob tumulus propostos para o megalitismo da Beira Alta (JORGE, S. O., 1994, pp. 134-135) e, mais propriamente, no segundo grande agrupamento apresentado neste esquema, onde se incluem os "[...] dólmens de câmara, em regra, poligonal, e corredor bem diferenciado (curto ou longo) [...]." (Id., Idem, p. 135), edificados grosso modo entre os finais do IV-inícios do III milénio a. C., coincidindo, por conseguinte, com o entendimento genérico de Neolítico final desta região.
É, em todo o caso, possível que as diferentes morfologias observadas nos dolmens da Beira Alta tenham coexistido e não resultem, propriamente, de um processo evolutivo tout court, decorrendo, pelo contrário, "[...] de uma diferenciação social emergente no seio de comunidades ainda de raiz igualitária; e, neste sentido, o interesse do estudo do megalitismo poderá ser o de ter fossilizado, sob a forma de uma arquitectura da terra e da pedra, um processo capital de evolução estrutural da sociedade. (Ibid.).
[AMartins]
(Info disponível em https://servicos.dgpc.gov.pt/pesquisapatrimonioimovel/detalhes.php?code=73159. Foto: SIPA.00519590) |