Nota Histórico-Artistica: |
Conhecido por "Castro de Baiões", o "Castro de N. Sra. da Guia" situa-se no monte que lhe deu nome, sobranceiro ao rio Vouga, no topo do qual se ergue uma capela consagrada à N. Sra. da Guia, a cerca de 4 quilómetros da vila de Baiões e das Termas de S. Pedro do Sul.
Estamos perante um povoado de altura edificado durante a Idade do Bronze (mais propriamente no século VII a. C.) estabelecido para esta região do actual território português que mereceu a atenção dos arqueólogos somente em 1973. Foi, então, sistematicamente escavado sob orientação do arqueólogo Monselhor Celso Tavares da Silva, recolhendo-se, entre outros, objectos líticos, fragmentos cerâmicos (nomeadamente com decoração incisa, estampilhada, brunida e com mamilos) e artefactos de bronze (especialmente pontas de lança e fíbulas), integrados na colecção arqueológica daquela instituição eclesiástica (SILVA, 1982).
Do espólio recolhido até ao momento sobressaem, no entanto, três torques e um víria de ouro maciço, a par de um "depósito de fundidor" entretanto identificado na estação arqueológica ( LOPES; SILVA, A. C. F. e SILVA, C. T. da, 1984).
Das primitivas estruturas são ainda visíveis vestígios das habitações de planta predominantemente circular e do muralhado composto de uma única linha. Na verdade, pouco sobreviveu do povoado devido à destruição à qual foi sujeito durante as obras de terraplanagem para construção da capela, do adro e das respectivas vias de acesso (OLIVEIRA, 2001).
Integrando o Bronze Final da Beira Alta, designado por alguns autores de Horizonte Baiões-Santa Luzia (SENNA-MARTÍNEZ, 1995), é provável que o castro se inserisse numa ampla rede de povoamento emergida neste período, em zonas interiores até então pouco desenvolvidas, a exemplo do Baixo Mondego, acompanhando "[...] a absorção e reprodução local de armas, utensílios e objectos de adorno metálicos, expressão do desenvolvimento e poder das elites locais que controlam a sua produção e circulação." (Id., 1998, p. 219).
Os últimos estudos colocarão, todavia, nos últimos séculos do II milénio a. C. o papel de "lugares centrais" de alguns destes povoados, conquanto não constituíssem centros de confrontos militares, funcionando, pelo contrário, como "[...] garantes de um equilíbrio regional [...] possibilitando uma mútua cooperação que permitisse o funcionamento regular dos mecanismos de circulação de pessoas e bens indispensáveis ao sistema de "wealth finance" que pensamos fundamentaria a economia e o poder das elites locais." (Id., Idem, p. 222), permeáveis a contactos com o "comércio" atlântico e mediterrânico.
A Capela de Nossa Senhora da Guia teria sido, segundo antigas tradições locais registadas por Frei Agostinho de Santa Maria no Santuário Mariano , edificada em meados dos século XI - XII, como cumprimento de uma promessa feita à Virgem pelas tropas cristãs durante a Reconquista, com pedras retiradas do designado Castelo dos Mouros, ou de Baiões (OLIVEIRA, A. Nazaré, 2001).
Segundo a tipologia que apresenta, de um pequeno templo rural edificado para romarias sazonais, a actual Capela da Senhora da Guia terá sido construída em meados do século XVII, albergando a partir de 1679 uma irmandade com a mesma designação, cujos estatutos foram confirmados por D. João de Melo, bispo de Viseu.
A capela apresenta planimetria rectangular composta pelos volumes da nave única, com coro-alto, e da capela-mor, diferenciados interiormente por desnível do pavimento. No exterior, o templo é desprovido de qualquer elemento decorativo, tendo sido anexada a sacristia ao alçado posterior. O portal principal foi rasgado numa das fachadas laterais.
No interior, destacam-se os retábulos de talha neoclássica branca e dourada, o principal disposto ao centro da capela-mor e albergando a imagem em madeira estofada de Nossa Senhora da Guia, datada do século XV, e dois colaterais, dispostos em ângulo.
Ana Martins e Catarina Oliveira
GIF/IPPAR/2005
(Info disponível em https://servicos.dgpc.gov.pt/pesquisapatrimonioimovel/detalhes.php?code=70477) |