Nota Histórico-Artistica: |
A Casa da Ínsua, um dos mais significativos solares barrocos do nosso país, foi mandada construir na segunda metade do século XVIII (c. 1780) por Luís de Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres, à época Governador e Capitão General de Mato Grosso e Cuiabá. A ligação da família Albuquerque a esta região da Beira, mais concretamente à vila de Sátão, remonta ao século XIV/XV, e o proprietário da Casa da Ínsua nasceu em 1739, em Ládão, localidade próxima de Penalva do Castelo onde, anos mais tarde, edificou a sua casa, também conhecida por Solar dos Albuquerques, tendo dirigido as obras a partir do Brasil.
No contexto da arquitectura civil de Setecentos, este imóvel insere-se na tipologia das casas-torre, de influência medieval, tendo integrado alguns elementos - as torres - de uma anterior construção quinhentista (AZEVEDO, 1988, p. 81). Estas, encontram-se nos extremos dos corpos do solar, formando uma planta em U, cuja fachada principal, de grande monumentalidade, se abre para o jardim. Ambas apresentam uma arcada ao nível do primeiro registo, que acompanha as janelas de frontão triangular, no corpo central. São rematadas por ameias vazadas por flores de lis, de cariz eminentemente decorativo.
O jardim, de inspiração francesa, à Le Nôtre, separa-se do edifício através de um tanque, apresentando traçado geométrico e um vasto conjunto de flores, algumas das quais raras no nosso país. Este, contrasta com o outro jardim, à inglesa, onde se encontram algumas espécies trazidas do Brasil pelo seu proprietário.
Na fachada oposta, aberta para um pátio formado pelos alçados dos corpos laterais e da capela, destaca-se o tratamento superior dos vãos do andar nobre, com molduras de frontão contracurvado, estes denotando já uma linguagem rococó e a época tardia em que a casa foi concluída (o brasão da família, numa das fachadas laterais, é também deste período). Ao centro, eleva-se o frontispício da capela, com frontão triangular e composição central formada pelo portal e janelão superior, de iluminação do coro. No interior, de nave única, ganha especial importância a cúpula pintada e o retábulo, polícromo e de gosto neoclássico, bem como os azulejos, já do século XX, executados por Luigi Battistini.
No muro que delimita a propriedade, foram abertos cinco portões (mata, Meia-Laranja, Barato, Principal e Sereia), já no final do século XIX e inícios do seguinte. O seu traçado encontra-se atribuído ao arquitecto italiano Nicola Bigaglia, que foi também o autor da casa do Guarda da Mata e da fonte ao centro do pátio. Na mata destaca-se o altar, concebido por Luigi Battistini no século XX, e com uma representação da Virgem com o Menino e Santo António.
Este modelo de habitação com duas torres, "que permitia um desenvolvimento mais espectacular das fachadas" (AZEVEDO, 1988, p. 81), foi bastante utilizado no norte do país, durante o século XVIII e também na centúria seguinte, destacando-se, entre outros exemplos, o Palácio da Brejoeira, em Pinheiros (distrito de Viana do Castelo).
(Rosário Carvalho)
(Info disponível em https://servicos.dgpc.gov.pt/pesquisapatrimonioimovel/detalhes.php?code=74675) |