Nota Histórico-Artistica: |
A capela do Rebelo deve a sua designação mais comum ao facto de ter pertencido à casa da família com o mesmo nome. Contudo, a capela foi, originalmente, dedicada a Nossa Senhora do Desterro ou a Jesus, Maria e José, beneficiando de uma especial devoção por parte da população, que aderia entusiasticamente às festas patrocinadas pelos mordomos da Capela (ALVES, 1977, p. 615).
De facto, José Rebelo Castelo Branco, natural de Roriz, estabeleceu-se em Mangualde através do casamento com D. Clara Maria do Couto, fixando a sua residência nas casas que hoje acolhem a Câmara Municipal. A capela é uma intervenção posterior, tendo sido fundada em 1742, no contexto de uma dinâmica de renovação da casa de José Rebelo, que este pretendeu dignificar com a edificação de um pequeno templo anexo.
A sua construção foi relativamente rápida, uma vez que, no ano seguinte, decorria já todo o processo que conduziu à bênção da capela, numa cerimónia presidida pelo padre Gabriel Monteiro (ALVES, 1977, p. 614).
Resultou desta obra um espaço de características barrocas, com planta longitudinal que articula os dois rectângulos correspondentes à nave e à capela-mor, devidamente separadas pelo arco triunfal. A ligação à antiga Casa do Rebelo é feita a partir do coro que, do lado oposto, comunica com o varandim presente na única fachada lateral.
A frontaria da capela destaca-se por ser elevada em relação ao pavimento, sendo necessário percorrer os oito degraus semicirculares para aceder ao portal de entrada. Da sua composição ressalta a semelhança com a fachada da igreja da Misericórdia de Mangualde, desenhada por Gaspar Ferreira, ainda que no caso da Capela do Rebelo, o movimento seja sugerido pelas volutas adossadas no frontão triangular e não através do recorte do próprio frontão, como acontece na Misericórdia.
Na restante composição as semelhanças entre as duas frontarias tendem a diluir-se. Na capela do Rebelo o portal é ladeado por pilastras e rematado por frontão de volutas. Este último é interrompido pelo nicho de remate semicircular, que imprime essa mesma forma à cornija. Ladeiam o portal duas janelas de moldura recta, com frontão semicircular.
No interior, ganha especial relevância o retábulo-mor, de desenho invulgar, que apresenta tribuna de grandes dimensões, em cujo trono é exibido o conjunto escultórico representando Nossa Senhora, São José e o Menino, ou seja, a Sagrada Família no regresso da Fuga para o Egipto, também considerado como um período de Desterro. Na base encontram-se as imagens de São Bartolomeu e de Santa Gertrudes, a primeira das quais pertencente a uma outra capela dedicada ao santo, demolida no primeiro quartel do século XVIII. Por esta razão, José Rebelo comprou a imagem em 1738, por mil quatrocentos e quarenta reis (ALVES, 1977, p. 618). Na zona superior do retábulo, o tímpano é formado por um painel com a imagem do Padre Eterno.
Aberto para a capela-mor, encontra-se ainda uma tribuna, que constituía um espaço privilegiado de onde a família Rebelo assisitia aos ofícios divinos.
De acordo com os estudos de Alexandre Alves, a descendência desta família não foi muito feliz, acabando o ramo por se extinguir no século XIX. Assim, foi já uma herdeira afastada que vendeu a Casa e a Capela à Câmara, em 1856, que se instalou neste espaço, onde ainda hoje se encontra. A capela, sem utilidade de maior, conheceu uma progressiva ruína, até ao seu restauro nos anos setenta do século XX, abrindo de novo as suas portas em 1976.
Rosário Carvalho
(Info disponível em https://servicos.dgpc.gov.pt/pesquisapatrimonioimovel/detalhes.php?code=74598) |