Nota Histórico-Artistica: |
As origens do culto a Nossa Senhora do Campo são bastante remotas, envolvendo uma lenda relacionada com a aparição da imagem, possivelmente no século XV. A primitiva capela foi erguida próximo do local onde a imagem teria sido encontrada, e depois substituída por uma outra, edificada no início do século XVII ou, mais concretamente, cerca de 1616, data visível na lápide do actual portal. O templo surge mencionado na Corografia Portuguesa do padre Carvalho da Costa (tomo II, p. 196), mas infelizmente sem descrição. Assim, as informações relativas à capela seiscentista são muito reduzidas, embora se conservem ainda alguns dos seus elementos, integrados na reconstrução de que o templo foi objecto, já no decorrer do século XVIII.
Na verdade, a devoção a Nossa Senhora do Campo era muito popular na região, tendo conhecido um maior dinamismo com a instalação, em 1723, da ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo. A ordem foi responsável por uma ampla reforma do templo, actualizando a sua linguagem arquitectónica e, principalmente, decorativa. Os trabalhos tiveram início em 1730, construindo-se, também, a Casa do Despacho, mas a sua conclusão aconteceria, apenas, em 1776. Nestes cerca de 46 anos de obras, há a assinalar a conclusão dos diversos altares: em 1737 os altares da nave; em 1769/71 os retábulos colaterais e em 1771 o retábulo-mor. Em 1774 terminavam-se os telhados e dois anos mais tarde toda a obra, com a pintura em perspectiva do tecto da nave e capela-mor.
Apesar da sua edificação num período avançado do século XVIII, a configuração do templo expressa um apego a fórmulas depuradas, mais próximas da arquitectura chã do que de um barroco setecentista. A fachada principal delimitada por pilastras nos cunhais (rematadas por pináculos), e terminando em empena, é marcada pelo portal principal de verga recta encimado por frontão triangular sobre o qual se abre um óculo quadrilobado a interromper o friso que liga ambas as pilastras.
No interior, observa-se um muito maior dinamismo visual, com os retábulos rococó a testemunhar a actualidade estética patrocinada pelos terceiros e, ao que tudo indica, pelas esmolas dos fiéis. A nave única, com altares colaterais em ângulo e púlpito, articula-se com a capela-mor através de arco triunfal de volta perfeita. Esta última configura um espaço octogonal, com retábulo de talha polícromo, rococó e tecto de madeira oitavado com pinturas. Ladeiam o retábulo duas pinturas representando a Anunciação e a Assunção da Virgem. No corpo da capela, a abóbada é pintada em perspectiva figurando, ao centro, Nossa Senhora do Carmo e o Menino a estender os escapulários às almas do Purgatório. Sem base documental que o suporte, este tecto foi atribuído a Pascoal Parente, mas a definição mais rigorosa de um corpus pictórico do pintor tem vindo a afastar esta ideia (ALVES, 1979, p. 231). Pelo contrário, o tecto de Vilar de Besteiros encontra bastantes afinidades com um outro, executado por um pintor regional, na igreja de S. Salvador do Mosteiro de Fráguas (IDEM, p. 232)
(Rosário Carvalho)
(Info disponível em https://servicos.dgpc.gov.pt/pesquisapatrimonioimovel/detalhes.php?code=73906) |