Nota Histórico-Artistica: |
Estudado desde finais do século XIX, graças à iniciativa de José Leite de Vasconcellos (1858-1941), que registou algumas das suas tipologias, por certo entusiasmado com o resultado obtido pelo conhecido investigador vimarenense Francisco Martins de G. M. Sarmento (1833-1899) durante a célebre Expedição Scientifica à Serra da Estrella, patrocinada pela "Sociedade de Geografia de Lisboa" no início dos anos oitenta, foi já em plena centúria de novecentos, quando a Europa se confrontava com o maior conflito bélico da sua História, que se iniciou o estudo sistemático do Megalitismo da Beira, dessa feita da responsabilidade de dois arqueólogos alemães, sob a égide do Instituto Arqueológico Alemão, até que os anos oitenta trouxeram a escavação de povoados eventualmente relacionados com sepulcros megalíticos já conhecidos.
Com efeito, as investigações conduzidas na região nas duas últimas décadas, mercê do empenho do "P.E.A.B.M.A.M. ("Programa de Estudo Arqueológico da Bacia do Médio e Alto Mondego"), sob direcção do Professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, João Carlos de Senna-Martínez, permitiram determinar o denominado "horizonte Carapito/Pramelas" com base na correlação estabelecida entre, precisamente, necrópoles megalíticas e povoados.
Um "horizonte" enquadrado numa baliza cronológica mediada entre o período de transição do V/IV milénio e o IV milénio a. C., correspondendo grosso modo a um dos prováveis momentos iniciais do fenómeno megalítico desta região do actual território português, como testemunho de uma primeira penetração de um Neolítico de tradição antiga, de origem estremenha, duas realidades interligadas pelo intercâmbio de matérias primas essenciais à execução de certos artefactos, como nos casos do sílex e da rocha anfibolítica (Cf. SENNA-MARTÍNEZ, J. C. de, 1994).
É neste mesmo horizonte que se integra a "Orca de Pramelas", situada nas proximidades da localidade que lhe deu nome.
Estudada a partir da sua identificação, já em meados da década oitenta do século passado, as escavações realizadas no sítio desde então, sob orientação de J. C. de Senna-Martinez e António Carlos Neves de Valera, revelaram um sepulcro megalítico formado por câmara funerária de planta trapezoidal, composto de nove esteios, três dos quais perfazendo a respectiva cabeceira, ao interior da qual se acedia através de um corredor muito curto constituído por sete esteios, distribuídos lateralmente de modo uniforme.
De um ponto morfológico, o exemplar em epígrafe enquadrar-se-á num dos diversos tipos de sepulcros sob tumuluspropostos para o megalitismo da Beira Alta (JORGE, S. O., 1994, pp. 134-135) e, mais propriamente, no segundo grande agrupamento apresentado neste esquema, onde se incluem os "[...] dólmens de câmara, em regra, poligonal, e corredor bem diferenciado (curto ou longo) [...]." (Id., Idem, p. 135), edificados grosso modo entre os finais do IV-inícios do III milénio a. C., coincidindo, por conseguinte, com o entendimento genérico de Neolítico final desta região do actual território português, ainda que alguns exemplares tenham sido reutilizados até ao II milénio.
Os materiais exumados confirmaram a sua inserção no universo "Carapito/Pramelas", pois, a par da ausência de testemunhos cerâmicos, recolheram-se, entre outros artefactos, micrólitos de sílex, sobre lâmina (neste caso geométricos), para além de machados de anfibolito de secção oval, colar de contas discoidais executadas em xisto, tal como um braçal de arqueiro e um dormente.
[AMartins]
(Info/imagem disponível em https://servicos.dgpc.gov.pt/pesquisapatrimonioimovel/detalhes.php?code=72096) |