Nota Histórico-Artistica: |
A irmandade da Misericórdia de Santar foi fundada na primeira metade do século XVII, por iniciativa de D. Lopo da Cunha, senhor da vila. O primeiro compromisso desta confraria seria firmado em 1636, assinado por D. Filipe III. A igreja da irmandade foi mandada edificar na mesma época, sendo erigida num terreno doado pelo fundador, integrado na cerca da Quinta do Casal Bom, propriedade de D. Lopo situada na extremidade da vila.
Ao contrário do que sucedia com outros templos de Misericórdias edificados na mesma época, em que eram adoptadas as estruturas sóbrias e vernaculares da arquitectura chã , a Misericórdia de Santar apresenta um modelo maneirista de gosto flamengo. A planta rectangular disposta longitudinalmente é composta pelos volumes da nave e da capela-mor, constituindo o corpo central, e vários volumes anexados lateralmente, como a torre sineira, a sacristia, uma capela lateral, a farmácia, e o espaço do Consistório.
A fachada principal rematada em empena divide-se em três vãos. Ao centro foi rasgado o portal principal de moldura recta, encimado por descrição. Sobre o portal, a janela de sacada com guarda de ferro, ladeada por volutas e rematada por frontão semi-circular, que integra o brasão nacional.
Nos vãos laterais, dispostos simetricamente, foram abertas duas janelas de peito com gradeamento de ferro encimadas por nicho concheado, com gárgula e frontão de volutas.
A torre sineira foi adossada à fachada lateral esquerda, e na fachada oposta foram edificados os anexos de serviço, a sacristia e uma varanda alpendrada com guarda e balaustrada em cantaria, cujo alpendre assenta sobre colunas toscanas. A Casa do Despacho da Misericórdia situa-se junto à fachada posterior do templo.
O espaço interior, de nave única, contrasta com a estrutura exterior, uma vez que é decorada com um programa barroco, derivado de uma campanha executada na segunda metade do século XVIII. Precedida por coro-alto, a nave é coberta por tecto de masseira e decorada nas paredes laterais por silhar de azulejos de estampilha de padrão fitomórfico, executados em meados do século XIX. Possui ainda um púlpito de talha de gosto neo-gótico, e duas capelas laterais, a do lado do Evangelho com retábulo de talha neoclássica, a capela fronteira com retábulo barroco de talha joanina.
O arco triunfal de volta perfeita que assenta sobre pilastras toscanas é ladeado por dois retábulos colaterais em talha policromada, o do lado do Evangelho dedicado a Santa Eufémia, o do lado da Epístola a Nossa Senhora da Piedade.
A capela-mor possui duas tribunas laterais de talha oitocentista que comunicam com a Sala do Despacho. Ao centro alberga o retábulo de talha maneirista, a única peça que restou do recheio ornamental original, que apresenta elementos inspirados na tratadística de Vignola.
Embora seja um templo rural de pequenas dimensões, a Misericórdia de Santar exibe uma estrutura de gosto maneirista de linhas eruditas que influenciou a traça de outros templos da região, como a Igreja da Misericórdia de Mangualde, edificada cem anos depois.
Catarina Oliveira
IPPAR/2005
(Info/imagem disponível em https://servicos.dgpc.gov.pt/pesquisapatrimonioimovel/detalhes.php?code=74900) |