Nota Histórico-Artistica: |
A casa de Cabanas de Viriato, onde viveu o Dr. Aristides de Sousa Mendes, encontra-se implantada num local isolado pelo muro que a envolve, delimitando uma zona de quinta. A sua edificação remonta ao século XIX, destacando-se pelo eclectismo da arquitectura e pela imponência da fachada principal, com entrada nobre de grande aparato, mas principalmente pela memória do cônsul que aí habitou.
Nascido em Cabanas de Viriato a 19 de Julho de 1885, Aristides de Sousa Mendes estudou Direito em Coimbra, optando por seguir a carreira diplomática. As suas opções políticas, nomeadamente o apoio à causa monárquica conduziram, em 1919, à suspensão do cargo que exercia em Curitiba, no Brasil. Neste período, acrescentou ao seu nome os apelidos da família (Aristides de Sousa Mendes do Amaral e Abranches) numa atitude que mais não era do que a reafirmação das suas convicções nobiliárquicas, também expressas no brasão pintado no tecto do hall da casa de Cabanas de Viriato. Anos mais tarde, no decorrer da Segunda Guerra Mundial, e ocupando, desde 1938, o lugar de Cônsul português em Bordéus, Aristides de Sousa Mendes passou vistos a milhares de refugiados, o que lhes permitiu fugir e sobreviver às perseguições de que eram objecto. Esta desobediência às ordens do regime de Salazar salvou milhares de pessoas, mas teve um custo pessoal muito alto, ditando o fim da sua carreira diplomática. Valeu-lhe, à época, a ajuda da comunidade judaica em Lisboa, cidade onde viria a falecer, a 3 de Abril de 1954, na mais absoluta pobreza. Os bens da casa de Cabanas de Viriato foram posteriormente vendidos em hasta pública, para pagar as dívidas contraídas.
De planta rectangular (com algumas dependências anexas), este imóvel desenvolve-se em três pisos, o último dos quais em mansarda. A fachada principal é marcada pelo maior destaque conferido à composição da zona axial antecedida, no piso térreo, pelos pilares rusticados que suportam a varanda do andar nobre e que lhe emprestam uma maior monumentalidade. A zona central é enquadrada por quatro janelas em arco de volta perfeita, e outras duas envolvem a porta central, armoriada, e de remate idêntico. No andar superior os vãos são todos de verga recta, tal como os da mansarda, rematados por frontão semicircular.
No interior, o hall de entrada exibe o já referido brasão da família: duas águas e duas espadas representam os Abranches; o leão os castelo Branco; as folhas de figueira os Figueiredo e as cinco asas os Abreu. Uma escadaria de madeira, com vitral, permite o acesso ao andar superior, onde se encontra, para além das muitas dependências, a capela.
Uma referência final para o Cristo Rei que se encontra fronteiro à casa, trazido de Louvainne em 1933.
Desde 2001 a Casa é propriedade da Fundação Sousa Mendes.
(Rosário Carvalho)
(Info disponível em https://servicos.dgpc.gov.pt/pesquisapatrimonioimovel/detalhes.php?code=72250. Imagem captada em abril 2024 @Google) |