Inscrição do Barco Moliceiro no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial

Voltar

Inscrição (salvaguarda urgente) do «Barco Moliceiro: Arte da Carpintaria Naval da Região de Aveiro» no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial.
O anúncio de inscrição do Barco Moliceiro: Arte da Carpintaria Naval da Região de Aveiro no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial foi publicado no Diário da República n.º 240/2022, de 15 de dezembro de 2022.


O Barco Moliceiro é uma embarcação tradicional de madeira, originária da Região de Aveiro, que foi inicialmente criada e utilizada para a apanha do moliço na Ria de Aveiro, uma das mais importantes atividades económicas que a região conheceu durante várias décadas. O moliço é o nome atribuído a um conjunto de 21 plantas aquáticas que vivem no leito submerso da Ria de Aveiro e que foi utilizado como fertilizante das terras agrícolas.

Quando se iniciou a atividade da apanha do moliço a população terá utilizado as embarcações que, na época, possuíam, contudo cedo perceberam que essas não se adaptavam às necessidades da atividade, tornando-a ainda um trabalho mais difícil. Foi então, neste contexto, que surgiu a necessidade de criar uma nova embarcação. Fruto da experiência e do profundo conhecimento da Arte da construção naval que existiam na Região de Aveiro, os mestres criaram o Barco Moliceiro, uma embarcação que apresenta uma estrutura, quer adaptada às características naturais da Ria de Aveiro - como o fundo chato que permitia ao barco navegar nas águas pouco profundas da Ria –, quer às exigências da tarefa da apanha do moliço – como os costados baixos para facilitar o processo de recolha dos ancinhos que apanhavam o moliço, para o interior do barco.

O Barco Moliceiro terá adquirido as formas que hoje conhece nos finais do século XVIII, tendo depois observado, nos séculos XIX e XX, um grande crescimento no número de embarcações, fruto da dinâmica económica a si associada. Embora possua uma arte de construção artesanal de processos simples, detém associado a si um conjunto de técnicas, ferramentas e saberes imateriais que têm sido, ao longo de várias décadas, transmitidos entre gerações (não apenas dentro das mesmas famílias), sendo passado esse conhecimento de mestres para aprendizes. Desde o seu processo construtivo, à pintura dos painéis de moliceiros, esta é uma embarcação que apresenta um conjunto de especificidades, começando, por exemplo, pela escolha da madeira e pela própria utilização das ferramentas, que diferencia o Barco Moliceiro das demais embarcações. Um dos elementos mais simbólicos desta construção é o pau-de-pontos, uma simples vara de madeira artesanal que serve de régua para os mestres construírem toda a embarcação e que, apenas com base na experiência e no seu conhecimento é possível a interpretar. Outro dos elementos distintivos dos barcos moliceiros são os seus painéis. Cada Barco Moliceiro tem sempre 4 painéis decorados (2 na proa e 2 na ré), sendo sempre distintos entre si e nunca se repetindo. Cada painel tem sempre um desenho e uma legenda que se complementam e que devem ser lidos em conjunto para que seja transmitida a mensagem – esta que poderá assumir temas mais humorísticos, satíricos, dramáticos, religiosos, saudosistas, ou outros, consoante a perceção e a visão do seu autor. Este saber-fazer tem-se mantido fiel aos padrões originais, fator que permite conhecermos hoje - salvo algumas adaptações introduzidas - um Barco Moliceiro muito similar, quer na estrutura, quer na decoração, àqueles que navegaram a Ria, durante anos, na faina do moliço, mesmo considerando que esta atividade já não é praticada desde os anos 80/90 do século XX e o Barco Moliceiro tenha, hoje, uma nova função – a atividade turística. Ainda assim, e não obstante a dinâmica que o turismo trouxe no processo de salvaguarda e na galvanização do trabalho nos estaleiros, o número de profissionais que se dedicam atualmente à Arte da Carpintaria Naval do Barco Moliceiro é reduzido (cinco mestres construtores e um pintor de moliceiros), cenário ainda mais inquietante se atentarmos que apenas um dos cinco mestres construtores navais no ativo possui menos de 60 anos, dois fatores, que associados a outros, colocam em risco a continuidade deste saber-fazer e evidenciam a necessidade de se intervir e o salvaguardar.

Data:

Local:

Publicação: 15-12-2022

Partilhar

Notícias e Eventos

Em Destaque