Patrimónios lendários...

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Patrimónios lendários

  

Pedro e Inês de Castro

Se há estória de amor que marcou a história de Portugal, é a do amor proibido entre o infante D. Pedro e de Inês de Castro, imortalizada no Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, através da coroação lendária, para nos fazer recordar o que é o amor eterno.
No século XIV, poucos eram os casamentos sucedidos por amor e D. Pedro e D. Constança Manuel, nobre castelhana, não exceção, tendo casado por proprietários eram políticos. Diz-se que o amor acaba sempre por brotar de onde menos se espera, tendo sido justamente o sucedido entre D. Pedro e Inês de Castro, dama de companhia da sua esposa. Inês de Castro, descendente bastarda da família real galega, colocava, aos olhos da corte, a independência portuguesa em risco.D. Afonso IV, pai de D. Pedro, sob o pretexto da moralidade, manda exilar D. Inês, em 1344, no castelo de Albuquerque, localizado na fronteira castelhana. Ainda assim, o amor entre os amantes não se extinguiu, que se correspondiam com frequência e se encontravam secretamente.
A 31 de outubro de 1345, D. Constança morre ao dar à luz o futuro rei de Portugal, D. Fernando I. Viúvo e perdidamente apaixonado por Inês de Castro, D. Pedro, contra a vontade de seu pai, manda regressar a sua amada e passa a viver maritalmente com ela. A união destes amantes deu frutos, D. Afonso, que morreu pouco tempo depois de nascer, D. Beatriz, D. João e D. Dinis, que viveram, durante vários anos com o casal no Paço de Santa Clara.
Face à profunda e crescente reprovação pela corte e pelo povo, D. Afonso IV manda assassinar Inês de Castro, em 1355, no Mosteiro de Santa Clara. Reza a lenda que as lágrimas ali derramadas, próximas do rio Mondego, criando a Quinta das Lágrimas, levando consigo algum sangue ali derramado, tendo avermelhado alguma das pedras na mesma quinta.
Em 1357, quando D. Pedro assumiu a coroa, o monarca, alimentado pela vingança, manda prender, matar e arrancar os corações dos assassinos de Inês, o que deu origem ao seu cognome de Cruel. Mais tarde, jurando que se havia casado secretamente com Inês de Castro, impôs o seu reconhecimento como rainha de Portugal, tornando-a a única rainha póstuma de Portugal.
E, como quem conta um conto acrescenta um ponto, diz-se que D. Pedro requera que as três ordens do Estado – clero, nobreza e povo – beijassem a mão da rainha, cujo cadáver fora desenterrado e sentado no trono, aquando da cerimónia formal no solene Mosteiro de Santa Clara.

  

Lenda da origem de Cadima

Durante a Idade Média, uma bela donzela, de nome Cadima e de origem desconhecida, ao chegar a uma nova terra, encontrou um jovem nativo que sentiu ser o amor da sua vida. No entanto, o seu pai, cuja vida era dominada por satanás, ordenou que partisse para outra terra. Face ao seu amor pelo nativo, a jovem contraria a decisão do seu pai e chora amargamente a sua dor. No auge do seu pranto, a terra abre e como por encanto Cadima desaparece. E, no mesmo instante, duas fontes brotaram da terra. O seu amado, ao verificar o sucesso, atribui o nome de Cadima à terra, que hoje se conhece como freguesia de Cadima. Nos terrenos que hoje pertencem a Fervença, na mesma freguesia, existe uma fonte tradicionalmente conhecida como a fonte dos “Olhos de Cadima” ou os Olhos de Fervença,

 

Lenda do Rei Arunce e a Princesa Peralta

No tempo em que a Península Ibérica era governada pelo procônsul Quinto Sertório, reinava, em Conímbriga, o rei mouro Arunce, na companhia de sua filha, a princesa Peralta. O rei mandou construir, como refúgio, um castelo nas entranhas na serra da Lousã.
Certo dia, uma numerosa armada, a mando dos romanos, invade Conímbriga e o Rei Arunce é obrigado a fugir para o castelo da Lousã, levando consigo a sua filha Peralta e todas as suas riquezas. Sertório, o chefe poderoso romano, nunca desistiu de possuir as riquezas do Rei Arunce, aspirando casar-se com sua filha. Para tal, engendrou um plano, enviando o triúnviro Estela para que este estabelecesse o altar para as festas e sacrifícios aos deuses, de modo a conseguir chamar a atenção da encantada princesa, comunicando-lhe as suas esperanças. No entanto, este não cumpriu as ordens, pois veio a enamorar-se da bela princesa. Face à corrupção da palavra, o triúnviro passou a chamar-se altar do Trevim, ao ponto mais alto da serra da Lousã. A princesa acabou por abandonar o castelo, envolvendo-se num ribeiro de muito caudal e de muita água,

 

Lenda da Mourinha Fervença

Numa época de guerra territorial entre mouros e cristãos, um amor inter-religioso era proibido. Ainda assim, um amor proibido entre a moura Fervença e um cavaleiro cristão sucedeu. Fervença, filha de um senhor poderoso, estava prometida a um velho “vizir” que, sabendo do sucesso, matou o cristão. A mourinha viu o seu amado cavaleiro morrer nos seus braços. As lágrimas de tristeza que brotaram de Fervença deram origem a um belo regato. Mais tarde, deste amor clandestino, nasce um filho, Emir, que vem unir as duas religiões. Emir tornou-se o defensor dos sofrimentos e oprimidos, o que deu origem a ódios e inveja. Sentindo-se oprimido, buscava refúgio nas terras do seu pai, onde tinha origem o regato formado pelas lágrimas de sua mãe, cada vez mais abundante. Nesta terra, Emir veio a fundar uma bonita povoação, a qual deu o seu nome e que, 

 

Lenda da Praia de Mira

Acredita-se que, noutros tempos, a orla marítima desenhava-se de forma diferente – sem a alta duna e com o areal da Praia de Mira mais plano, o mar invadia facilmente a ria. Certo dia, um pescador de um barco naufragado encontrou uma ninfa, perdendo-se de amor por ela. Abraçados, beijaram-se num momento prolongado e fatal, pois a ninfa brotava uma saliva tão salgada que, pouco a pouco, foi enchendo o jovem pescador de sede. Este, exausto, acabou por morrer colado aos lábios da sua amada. Tétis, filha de Neptuno, castigou a ninfa, transformando-a numa ilha à saída dos moinhos da Videira, para que a doçura da água lhe absorvesse todo o sal. Dóris, por seu lado, também filha de Neptuno, transformou o pescador numa duna branca em forma de golfinho, com o rosto virado para ilha, com o nome de Zé Arrais – o nome do infeliz rapaz. Diz-se que, por vezes, durante a noite é possível ouvir os sussurros dos dois amantes. 

  

Lenda da Moura Zuleida

No ano de 966, Demir Benalfagi, vindo do Reino de Granada, conquistou Montemor e as terras envolvente. Com ele veio a sua filha, Zuleida, a sua beleza destacava-se de tal forma que ficou conhecida como a “Flor do Mondego”. Certo dia, Zuleida confessou à sua aia preferida que, todas as tardes, do outro lado do penhasco onde se encontravam, um jovem cavaleiro lhe dedicava cantigas de encantar e de namorado.
Com a paz a terminar, o governador cristão incumbiu dois jovens cavaleiros, D. Álvaro e D. Mem, de se dirigirem a Benalfagi para lhe entregar uma mensagem. Nesse momento, aparece Zuleida, que reconhece os mantos, cores e divisas dos jovens, bem como a sua forma de ser, percebendo que eram dois, e não apenas um, os cavaleiros que lhe dirigiam trovas e por quem se enamorara! Os jovens cavaleiros, até então inseparáveis, decidiram desafiar-se, porém quem acaba por morrer é Zuleida. Os rivais, por seu lado, como forma de penitência tomaram o hábito e regra de S. Bento.

 

Lenda da Moura encantada

Um rei mouro tinha uma filha enamorada por um cristão. Todavia, o seu pai, que não concordava com este amor, decidiu realizar um feito com o objetivo de a proteger da errada decisão. Ao coloca-la num lugar secreto com um tesouro, explicou-lhe que este só seria quebrado quando alguém desse as sete voltas à igreja pelo pino da meia-noite. Até hoje, não existe vivalma que desse as sete voltas à Igreja de S. Pedro em Lourosa, onde a moura ainda aguarda com o seu tesouro pela libertação. 

 

Lenda do Mouro do Cabril

Beatriz, uma bela moça, tinha o hábito de ajudar a sua mãe no pastoreio, junto à Ribeira do Cabril. Os rapazes da aldeia cobiçavam Beatriz, mas nenhum se rendia, deixando a sua mãe enfurecida. Um dia, Beatriz ouviu uma voz de um jovem moreno que a questionou se queria visitar o seu palácio, alertando-a para o facto de que se entrasse não poderia sair. A moça percebeu de imediato que se tratava de um príncipe encantado e perguntou como é que o encantamento poderia ser quebrado. O jovem explicou-lhe que a única forma era ter um filho de uma moça como ela, só nesse dia poderia voltar a ver o seu mundo. Beatriz aceitou e no dia do nascimento do seu filho a sua mãe, que se vestia de luto face ao desaparecimento da sua filha, foi chamada a auxiliar a sua filha no parto e informada de que se o fizesse poderia voltar todos os anos naquele dia para ver a sua filha e o seu neto. O acordo foi mantido, porém, certo dia, o pai de Beatriz obrigou a mãe a ir a uma feira, impedindo-a de visitar a filha. Por entre a multidão, a mãe viu um mouro com um rapazinho ao colo, mas ao correr para eles, estes tinham desaparecido como fumo. Diz-se que a mãe ficou louca devido ao misterioso desaparecimento da filha, levada pelo mouro do Cabril. 

  

Lenda da Moura encantada da fonte da Pipa

Próximo do Castelo de Penela, na basa de uma rocha escondida no meio de uma densa moita de loureiros encontra-se um estreito caminho pelo qual é possível aceder à Fonte da Pipa. A fonte era o local secreto de encontro de dois amantes, da princesa moura Zara e do moçárabe D. Sesnando. Em plena guerra religiosa, a relação proibida descobriu-se e Sesnando Davides abandonou, contrariado, o romance. Diz-se que, todos os dias até morrer, Zara regressou à fonte.
Corre no povo que ainda é possível ver Zara, na noite de S. João, pentear os seus cabelos de ouro, enquanto espera pelo seu amado, debruçada sobre o espelho de águas correntes. Há, também, quem a tenha observado durante o dia, aquando da maior intensidade do brilho do sol, a dourar as suas peças de ouro. Alguns homens ousaram tocar nos seus preciosos bens, transformando-se, de imediato, em louras e docíssimas ameixas bispas.

 

Lenda de Amor e Cegovim   

Reza a lenda que, num dos seus demorados passeios a cavalo pelos arredores da cidade de Leiria, D. Dinis se cruzou com uma camponesa de beleza tal que ali, entre campos floridos, nasceu um grande amor.           

As visitas do rei à camponesa tornaram-se habituais e conhecidas pelas redondezas, levando a que o povo passasse a chamar aquele lugar de “Amor”. Quando esta relação amorosa chegou aos ouvidos da rainha, esta quis mostrar-lhe a sua reprovação e, certa noite, mandou iluminar o caminho por onde o rei deveria passar para regressar a Leiria. D. Dinis, ao ver o trilho iluminado por fogaréus, ouviu que era resultado do descontentamento da rainha Isabel e exclamou:    
– Até aqui cego vim!                                                                                                                       

Desta história, nasceram os nomes de duas localidades: Amor e Cegovim, esta última uma evolução natural que a pronúncia popular transformou em Cegodim.

 

Lenda dos Rios Lis e Lena

Segundo reza a lenda, vivia em Cortes, perto do que hoje se designa por Leiria, um formoso rapaz, Lis, muito apaixonado por uma bela donzela, Lena. Encontravam-se nos bailes e festas tendo começado secretamente a namorar.
Leiria, uma rapariga muito apaixonada por Lis, cada vez que via Lis e Lena juntos jurava vingar-se. O ciúme corroeu tanto o seu coração que, um dia, decidiu acabar com a relação dos dois amantes. Atraiu Lena até Porto de Mós e matou-a, sem dó nem piedade. Lena transformou-se em rio, na esperança que o seu amado um dia a reconhecesse. Lis, quando soube do sucedido ficou muito desgostoso e chorou até as suas lágrimas se transformarem também em rio. Ainda assim, Leiria, querendo conservar o seu amado só para si, cresceu à sua volta como que a abraçá-lo. No entanto, Lis que aspirava liberdade como qualquer rio, conseguiu libertar-se dos seus braços e, um pouco mais abaixo, num cenário muito romântico de uma planície florida encontrou Lena e aí casaram felizes, correndo juntos para sempre a caminho do mar.
Esta lenda exibe o poder do amor verdadeiro, que consegue sempre vencer todas as dificuldades e barreiras que o tentem travar.

 

Lenda da cabeça da Velha

Segundo a lenda, na Serra de Peneda, vivia Leonor, uma jovem bela e rica, sob a tutela de um tio fidalgo, o poderoso e cruel D. Bernardo. Leonor tinha um amor secreto, D. Afonso, um fidalgo jovem, mas arruinado. O secretismo deste amor proibido era auxiliado pela sua velha aia, Marta, que a acompanhava nos breves encontros que mantinha com o seu apaixonado. Marta havia jurado fieldade, afirmando que se algum dia os traísse Deus a transformaria em pedra. Certo dia, a aia foi surpreendida por D. Bernardo. O cruel fidalgo, suspeitando de algo, obrigou Marta a contar o que se passava a troco de grandes ameaças. A velha aia, pressionada, disse-lhe o local e a hora do próximo encontro dos amantes, que o tio decidiu surpreender e castigar. No encontro seguinte, como habitual, os jovens encontraram-se na serra da Peneda e Leonor fazia-se acompanhar por Marta, que ficou a vigiar num local próximo. Enquanto os jovens trocavam juras de amor, ouviram vozes e procuraram por Marta, que, por seu espanto, se tinha transformado em pedra, indício de que os teria traído. Face ao perigo, os jovens amantes fugiram para GaLisa, onde casaram e fizeram fortuna.

 

Lenda do Rei Vamba

O castelo de Ródão, fundado por Vamba, rei suevo ou visigodo, era a moradia do rei, sua mulher, filhos e da restante corte. Quando das andanças da caça e da guerra, cabia a rainha a responsabilidade de governo. A sua incumbência determinou que, a certa altura, falasse com o rei mouro que governava na outra margem. Rapidamente se tornaram amantes, namorando sentados em cadeiras de pedra situadas numa e noutra margem das Portas.
O amor adúltero, que unia as margens do rio, levou a rainha a abandonar o seu rei e castelo e abrigar-se na capital do rei mouro. No entanto, rapidamente foi do conhecimento do rei Vamba, que planeou um estratagema, com conhecimento dos seus filhos e guerreiros, para resgatar a sua rainha.
Assim, o Rei Vamba, disfarçado de peregrino, entrou no castelo do rei mouro. A rainha, ao reconhecê-lo, fingiu ser prisioneira do rei mouro e, em simultâneo, alertou-o para o disfarce do seu marido, que rapidamente se tornou prisioneira. V amba, implorando pela generosamente do rei mouro, pediu que lhe concedesse, por uma última vez, o privilégio de tocar em sua corna. O rei tanto tocou que os seus guerreiros lhe acudiram, derrotaram o exército mouro e trouxeram a rainha para o castelo de Ródão. A rainha, julgada pelo conselho, e por sugestão do filho mais novo, foi condenada a ser atada na mó de um moinho e despenhada pela encosta do Tejo. Diz-se, ainda hoje, que nunca mais cresceu vegetação onde o corpo rolou.

  

Lenda da Torre dos Namorados

Conta-se que, há muito tempo atrás, no local que hoje é denominado como centro da Torre dos Namorados, se encontrava uma cidade povoada, onde abundava prosperidade e felicidade. A cidade era governada por um rei consciente dos seus deveres para com os súbditos que, dotado de um sentido de justiça, revelava uma moral inabalável e incorrupta, na qual a palavra tinha um valor insubstituível e, dizia-se na altura, "antes preferia morrer que vergar. Este rei tinha uma filha de uma beleza estonteante. Certo dia, dois jovens, perdidamente apaixonados, dirigiram-se ao palácio real para falarem com sua majestade, de modo a conseguiram o consentimento para casarem com a jovem princesa. O rei, que reconhecia ambos, pelo seu auxílio e amizade, não queria manifestar qualquer tipo de preferência para com os pretendentes. Como tal, incumbiu-os de realizarem duas obras de igual valor e responsabilidade - a construção de uma torre imponente e um tanque de pedra e respetivo aqueduto que conduzisse a água da Ribeira do Anascer, pela serra da Presa, próximo da povoação de Casteleiro - triunfando aquele que acabasse primeiro. Os pretendentes concordaram, porém, terminaram em simultâneo. O rei, não encontrando solução, decidiu imitar Salomão, e entregar a sua filha para que a partissem ao meio. A donzela, assim que teve conhecimento da decisão do pai, fugiu e, aos gritos do povo “Mata! Mata!”, foi morta no local que, ainda hoje, se intitula, Mata da Rainha!

 

Lenda da Dama do Pé de Cabra

Reza a lenda que no alto da Torre do Castelo vivia uma lindíssima princesa de nome Maria Alva. A princesa nunca saiu da torre, sendo apenas possível vê-la quando esta se colocava à janela. A sua beleza única correu de terra em terra, fazendo com que cavaleiros e príncipes vissem de todo o lado para a verem surgir à janela. A resposta da princesa era sempre a mesma, casaria com quem lhe conseguisse oferecer um par de sapatos à medida do seu pé. Várias foram as tentativas, mas sem sucesso.
Certo dia, apareceu um príncipe, cuja esperteza lhe valera a alcunha de Olhos de Falcão, que decidiu não enviar modelos à toa como eram os pretendentes restantes. Em vez disso, pagou a um criado para que espalhasse junto cinza à cama da princesa para que quando a princesa se levantasse deixasse uma pegada. O estratagema resultou, porém, ao verem a forma do pé, o criado e o príncipe ficaram surpresos – a princesa tinha pés de burro! Imediatamente, o criado lembrou o príncipe que pés de burro em corpo de gente era sinal do diabo, mas nem assim o príncipe se demoveu. O sapateiro, com medo da situação diabólica, apenas aceitou realizar uma encomenda quando viu o príncipe trazer uma mula com dois sacos de ouro ao lombo.Três dias depois, a obra estava pronta e o príncipe apressou-se a entregar pessoalmente os cascos. A princesa, ao ver o que o príncipe trazia, irradiava felicidade e, em vez de o receber à janela como era habitual, recebi-o à porta. Explicou-lhe que tinha sido alvo de um feitiço de uma bruxa malvada e que a única forma de quebrar o feitiço seria receber um par de sapatos à sua medida, com a condição de que achara ser impossível. Descansado, o casal abraçou-se e ouviu que o verdadeiro amor a tudo resiste e, se preciso for, até o Diabo vencer.
A terra, por seu lado, tomou o nome da linda princesa, Marialva, freguesia do concelho de Mêda.

  

O Castanheiro dos Amores

D. Lopo Soeiro, rico-homem de Viseu, possuía uma filha carinhosa que se encontrava loucamente apaixonada pelo esbelto cavaleiro D. Martim de Sousa. O cavaleiro, na responsabilidade de defender o seu país das investigadas castelhanas, respeitamente que viria a ser conhecido como a Batalha de Aljubarrota, viu-se obrigado a despedir-se da jovem. Os dois apaixonados, durante a noite, junto ao “Castanheiro dos Amores”, abraçaram-se na despedida, quando a bela jovem pediu ao cavaleiro que lhe jurasse solenemente que a luta mal terminasse voltaria para os pés daquela árvore.
A batalha terminou e D. Martim nunca mais voltou. Todavia, o juramento cumpriu-se, o fantasma do cavaleiro apaixonado apareceu como prometera. Juramento que continuo a cumprir até a jovem se juntar com ele no Céu.
Esta árvore lendária, que vegetava junto ao muro da vedação que desce do Cruzeiro à Carreira dos Carvalhos, não longe do Paço Espiscopal de Fontelo, secou e desfez-se em setembro de 1889.

 

Lenda da Bicha-Moira

Certo dia, os caminhos de uma linda princesa moura e de cavaleiro cristão cruzam-se. Numa época de guerras religiosas, emergiu um amor proibido. Quando o casal apaixonado pensara que nada poderia quebrar o seu amor indestrutível, o pai da princesa descobriu o relacionamento. imediatamente, o rei mouro proibiu a sua filha de ver o cavaleiro. A princesa, não evitava renunciar ao seu amor, encontrava-se secretamente com o seu amado. Descobrindo o que se passou, o seu pai e os restantes mouros incumbiram uma fada de feitiçar a princesa em serpente, sendo esta enclausurada numa gruta com os tesouros mouros. A princesa, agora serpente, chorou de tal modo que as suas lágrimas escorreram pela gruta, romperam-na e soltaram-se numa fonte – A fonte da Bicha-Moira.
Para quebrar o encanto, um rapaz, na noite de S. João, teria de ser capaz de beijar três vezes. Diz-se que a princesa mistura nas suas lágrimas cifras de ouro para tentar quebrar o feitiço e que, em tempos, um rapaz, na madrugada de S. João, terá ouvido uma voz e visto as cifras que corriam na fonte, desenvolvimento desencantar a princesa. No momento em que se preparavam para sair, depois de terem combinado o casamento e o batismo da princesa, levantaram-se, do reino dos mortos, os mouros que, ao verem a princesa renunciar à sua fé, e temendo que os seus tesouros fossem desbaratados , dobraram o encanto. Ninguém se atreveu a repetir a proeza.
Houve um tempo em que a fonte alimentava um regato que arrastava as lágrimas da princesa até ao Rio Águeda e as lançava no Cais do Botaréu. Durante séculos, o povo acreditou nos poderes milagrosos do banho tomado junto ao cais na noite de S. João, um banho de lágrimas de uma princesa apaixonada era cura certa, não fosse o amor o remédio exato para muitos machos.
O banho santo de S. João desapareceu, mas o choro da princesa encantada continua e com ele o feitiço das águas: todo o forasteiro que bebe das águas do Botaréu não mais irá sair das terras da princesa, ficando para sempre em Águeda e não consta que haja maneira de quebrar este feitiço.

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Publicação: 14-02-2023

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